Mogi das Cruzes, Agosto de 2010


Como abordar um conhecimento que somos incapazes de penetrar em todas suas nuanças?  É necessário que sejam fincados os marcos das Escrituras, e apenas delas,  e a contribuição de conceitos simples e reconhecidos para considerarmos algo tão sublime. 
A certeza que adentraremos aos palácios do conhecimento do Altíssimo, exige a prudência e a submissão que não nos é natural, precisamos anular a sabedoria pessoal e contarmos com a bondosa ajuda dos céus, pois sem ela nada podemos. E assim, iniciarmos a doutrina de Cristo, em suas naturezas.

Iniciaremos com a contribuição dos conceitos, pela definição do que é pessoa, mesmo que em seu sentido lato. Por Pessoa entendemos como aquele que é possuidor da faculdade da vontade, do intelecto e dos sentimentos. Isto posto, podemos afirmar que pessoas, tomando o universo das criaturas, são apenas os seres humanos e angelicais.

Uma questão a ser posta é que não há ninguém, por constituição, com duas ou mais faculdades da vontade, ou intelecto, muito menos sentimentos.

Outra definição necessária são os Atributos. Estes são características constitucionais da pessoa: a bondade, amor, inteligência. Com sua origem no Criador, Este comunicou às suas criaturas características próprias que as faz serem seres pessoais. Finitude, conhecimento, sentimentos, inteligência, volição etc.

Já a Natureza é a fonte que irradia a energia, nutrindo as faculdades e fazendo manifestar os atributos. Logo, os mesmos atributos podem ser movidos, por naturezas diferentes. Compreendemos assim que a força motriz que conduz a faculdade é a natureza.

Os marcos das Escrituras começam a orientar os argumentos: Jesus é a segunda pessoa da Triunidade Santa, portanto apenas Ele se revestiu de carne e revelou ao Pai. Nosso Senhor efetivamente é possuidor de duas naturezas. Antes de sua encarnação de forma alguma ele era humano, mesmo sendo Ele imolado desde a fundação do mundo. 






Ele, porém, estava na popa dormindo sobre a almofada; e despertaram-no, e lhe perguntaram: Mestre, não se te dá que pereçamos? E ele, levantando-se, repreendeu o vento, e disse ao mar: Cala-te, aquieta-te. E cessou o vento, e fez-se grande bonança. Então lhes perguntou: Por que sois assim tímidos? Ainda não tendes fé? Encheram-se de grande temor, e diziam uns aos outros: Quem, porventura, é este, que até o vento e o mar lhe obedecem? (Mc 4.38-41)

O ato de dormir representa uma característica ausente ou desnecessária em Deus.  Segundo o Salmo 121, que diz: “Não deixará vacilar o teu pé; aquele que te guarda não dormitará. Eis que não dormitará nem dormirá aquele que guarda a Israel” .

Da mesma forma o questionamento final dos discípulos a bordo da nau: “Quem, porventura, é este, que até o vento e o mar lhe obedecem? “ mostra que a calmaria produzida não provinha de obra humana. Temos, pois, no texto a manifestação de duas naturezas: humana (dormir) e a divina (promover a bonança). Que se manifestam independentes e sem se confundirem, nem criar uma terceira natureza. A plenitude do exercício de cada uma das naturezas de Cristo está presente no texto.  Isto afirmamos com base no registro do escritor sagrado.
Em Cristo NÃO há duas Faculdades da vontade, mas sim duas manifestações distintas da vontade. Há, sim, a ação das naturezas de Cristo – humana e divina – sobre sua faculdade, que é uma só, resultando em diferentes manifestações da vontade.

Os atributos comunicáveis às criaturas humanas estão presentes em Cristo Jesus, que ora são conduzidos por suas naturezas distintas. Uma única faculdade com manifestações distintas de vontade, intelecto e sentimento.

Assim é possível entender sua ignorância em: “Daquele dia e hora, porém, ninguém sabe, nem os anjos do céu, nem o Filho, senão só o Pai.” (Mt 24.36). Seu intelecto conduzido  pela natureza humana desconhece o porvir.  Em contrapartida, lemos: “Eu e o Pai somos um.” (Jo 10.30), temos aí a plenitude de Deus.

Nosso Senhor é o próprio Deus em substância, eternidade, incorporalidade, imutabilidade, poder e glória, ao mesmo tempo é humano com sua corporalidade, finitude, crescimento, mortalidade, ignorância, porém com impecabilidade.

E crescia Jesus em sabedoria, em estatura e em graça diante de Deus e dos homens.” (Lc 2.52). Este texto mostra que era programa de Deus o crescimento da figura humana de Cristo, mesmo que nela habitasse a plenitude de Deus (conf. Cl 1.19).


O Filho, a segunda pessoa da Triunidade santa, eterno e divino, nasceu, cresceu, morreu, ressuscitou, subiu aos céus, estando a direita do Pai. Este Deus entrou na história humana em Sua plenitude, é nosso Senhor e Salvador Jesus.
Jesus é um ser pessoal inseparável em suas duas naturezas.  Extirpar qualquer uma delas ou tratá-las separadamente desfaz o mistério da encanação e aniquila-se o escândalo da cruz, e tal suposição não conduz ao correto conhecimento do Senhor. Não provém do Espírito, mas sim, da mente carnal que nos assedia. É, antes, especulação anti-bíblica e não Cristológica. 

Perguntas tais como: Deus morreu? Deus nasceu? Em nada contribui para aprofundar os marcos da sã doutrina, tentam apenas promover dificuldade, que na realidade não existe.  
O que envolve exclusivamente o ser divino são objetos de Teologia Própria, e que falam especificamente do homem devem ser tratadas em Antropologia. 

A Ele honra, louvor e glória. 

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