Mogi das Cruzes – SP

Texto: Jo 21.15-25
Chegamos ao final do Evangelho de João temos a certeza que atravessamos lindas páginas de amor, sabedoria e bondade de Deus, suficiente para produzir em nós a mais profunda esperança.
Contudo, precisamos reconhecer… faltou humilhar-mo-nos mais ao Senhor, assim teríamos chorado mais, nos arrependido muito mais. Faltou-nos o quebrantamento publicano: Ó Deus, sê propício a mim, pecador! (Lc 18:13).
Outra certeza: muito mais há nessas páginas, muito mais a aprender, muito mais deveria ser dito e aprendido para glória de nosso Deus. É necessário o consolo do Senhor: “O que eu faço, tu não o sabes agora; mas depois o entenderás”. (Jo 13:7). Nossa ignorância foi contemplada e antecipada pelo Altíssimo.
O Senhor, a despeito de nossas falhas, em sua benevolência, dá-nos pacientemente mais e mais de seu conhecimento e de seu cuidado até aquele Dia quando estaremos face a face com Ele, e tudo será novo.
Tu me amas?
Ali mesmo na praia, finda a refeição, o Senhor deixou para trás a escolha feita pelos seus discípulos na noite anterior. Acredito que à parte, apenas com Pedro, o Senhor quebra o silêncio, indagando-o: Tu me amas mais que estes outros? A quem se refere o Senhor? Quais as preocupações povoam a mente do Senhor?
Alguns propõem referir-se aos peixes pescados, isto é, questiona se Pedro amava mais aos peixes que a Cristo. Apesar de possível, vejo mais coerência à história de Pedro, ao contexto e ao caráter de Deus, Senhor propor um cenário com a companhia daqueles discípulos na pescaria e não aos peixes. Assim, distancio-me desta proposta, e entendo que o Senhor procura reconduzir a Pedro às veredas da verdade, às veredas santas do serviço ao Senhor.
E temos a nos apoiar Mc 14.29, quando Pedro ofereceu voto de eterna fidelidade: AINDA QUE TODOS SE ESCANDALIZEM, NUNCA, PORÉM, EU”. E sabemos o sucedido.
Levemos nossas mentes a considerar que o propósito do questionamento do Senhor é esse mesmo: despertar  Pedro. Há em Pedro um sumário de sentimentos e escolhas equivocadas no questionamento: “Tu me amas?”

Nada é colocado em detalhes sobre o que Pedro fez ou deixou de fazer, apenas realça sua verdadeira devoção ao SENHOR. As escolhas de Pedro são figuras vívidas que expressam sua devoção ao Senhor. É esse o primeiro ponto no qual devemos considerar para posicionamento de nossas vidas em relação a Deus: o quanto somos capazes de abrir mão de nossas devoções pessoais para nos aproximar mais de Deus… extraímos a resposta pelas nossas escolhas.
Em sua habitual sinceridade, responde: “Senhor tu sabes que te amo”. 


Apesar de serem os mesmos verbos em nossa Bíblia, Pedro empregou um verbo diferente para responder. E o contexto oferece uma possibilidade do “amo” de Pedro ser menos intenso que o “amo” utilizado pelo Senhor. 
Com cuidado devido, apenas para melhor entendimento do contexto, podemos associar “amo” do Senhor com o “amo” que utilizamos para definir nosso “amar”. Enquanto que o “amo” de Pedro seria o nosso “gostar”, portanto, com menor intensidade. Em nosso cotidiano utilizamos “amar” para expressar um sentimento mais intenso que “gostar”.
Pedro, sabendo ou não o intento do Senhor, desviou-se de corresponder à intensidade da pergunta, e mais, se refugiou na sabedoria do Senhor, ”tu sabes”. Pedro sabe que o Senhor conhecia seu coração, não estava disposto a reviver suas falhas, seus enganos. Para Pedro estava resolvida a questão: “o Senhor conhece o meu coração”.
Caso o Senhor estivesse encerrado neste ponto poderíamos concordar com muitos que se escudam neste argumento para justificar a falsidade em nome do Senhor. É uma outra perspectiva: “o Senhor sabe, o Senhor conhece o meu coração”, soando como refrão autorizador do pecado.
De certa forma, vemos em nosso derredor são inconversos, passando-se como cristãos, como se fossem túmulos caiados.
NÃO FUGIRÃO DO TEXTO:
“ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! porque sois semelhantes aos sepulcros caiados, que por fora realmente parecem formosos, mas por dentro estão cheios de ossos e de toda imundícia”. (Mt 23:27)
Face á resposta do Apóstolo, o Senhor complementa: “alimenta minhas ovelhas”. A essa linguagem Pedro estava familiarizado.
Quantas vezes ouviu: “O SENHOR É MEU PASTOR E NADA ME FALTARÁ”? As lembranças dos ensinos do Mestre: “EU SOU BOM PASTOR QUE DÁ A VIDA POR SUAS OVELHAS”?
Estava o Senhor, a despeito de quem era Pedro, oferecer-lhe uma nova oportunidade de servi-lo? Alimentar ovelhas de um rebanho celestial? Confiada lhe seria tal grandeza?
Tu me amas?
Insiste o Senhor: “Tu me amas?” E Pedro novamente utiliza-se da mesma resposta e intensidade para afirmar que sim. Reporta-se novamente ao conhecimento do Mestre: “Tu sabes que eu te amo”. Oferece-lhe um coração contrito e ouve: “Pastoreia (conduz) minhas ovelhas”. O Senhor conhece a história e o coração de Pedro, mas mesmo assim, confia-lhe, além de alimentar, haverá de conduzir as ovelhas do Pastor Ressurreto (Hb 13:20).
O Senhor tem (frágeis) vasos de honra e por meio desses Sua glória é manifesta por toda a terra. 
Tu me amas?
Pela terceira vez questiona-lhe o Senhor, agora sem empregar a mesma intensidade, utiliza-se das mesmas palavras de Pedro: “Amas-me?” (gostas de mim?)
Terceira, três, estes números deveriam afligir a Pedro, pois, sua traição ao Senhor estava vívida em sua mente.
Lembremos que o SENHOR ressurreto estivera entre os seus por apenas por 40 dias. 
Pedro reconhecia sua tão (1) dolorosa bravata de fidelidade, 
(2) os cânticos após a Páscoa quando se dirigiram ao Getsêmane, 
(3) a agressão a Malco, 
(4) o abandono o Mestre, 
(5) a covardia convicta frente aos serviçais… por fim o galo a cantar por três vezes… e a traição. 
Eram mui pesadas tais lembranças.

O Senhor reconhece a FRAGILIDADE DE PEDRO, o peso de suas decisões, porém aceita suas deficiências, sua devoção, e por fim, sua frágil, mas sincera resposta.
Pelo que diz: Desperta, tu que dormes, e levanta-te dentre os mortos, e Cristo te iluminará. (Ef 5:14)
Teria Pedro ENTENDIDO ANTECIPADAMENTE ”eu lhe mostrarei quanto lhe cumpre padecer pelo meu nome”? (At. 9:16).
Tudo ficou para trás, reconhecer a disposição do próprio coração é o que importa a Pedro.
Nos versos 18 e 19, lemos:
“Quando na tua velhice, te levarão para onde não queres ir”.
É sobre como Pedro tributaria a Deus com sua morte. E acrescenta: “Segue-me”.
Mesmo antecipando seus sofrimentos oferecia-lhe um novo começo, uma nova vida, um novo despertar, aprenderia Pedro: “de maneira alguma de deixarei, jamais te abandonarei”.
Palavras que ecoam desde a eternidade, sons celestes que chegam aos nossos corações e nos impelem a irmos em frente, mesmo sendo quem o somos.
Despertam o Senhor a todos os seus, mesmo em nossos erros, em nossas decisões equivocadas, o Senhor está sempre pronto para nos despertar e reconduzindo-nos com amor à sua comunhão… rumo à pátria celestial.
Assim como fez com Pedro.

CLAMEMOS COM OS APÓSTOLOS AO SENHOR: AUMENTA-NOS A FÉ. (Lc 17:5)

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