A abertura dos Evangelhos oferece-nos um cenário com uma nação dividida entre a acomodação política e a esperança religiosa, donde emanam mistos de sentimentos e expectativas, que se fundiam na vinda do Messias, o Cristo de Deus, para o povo de Israel.
Ora, estas coisas vos tenho dito para que, quando a hora chegar, vos recordeis de que eu vo-las disse. Não vo-las disse desde o princípio, porque eu estava convosco. (Jo 16.4)
O texto que lemos antecipa a mais profunda mudança jamais realizada. Na pequena Judéia Deus mostrará sua sabedoria e poder, seus efeitos se estenderão até aos confins do universo, e todas Suas criaturas contemplarão. O Senhor definirá o ponto central da história humana, de onde os demais eventos, cativos a ele, emergirão.
Parte do plano de Deus que estivera oculto será deslindado, cabendo a um grupo insignificante, de apenas 12 pessoas, iniciar e conduzir essa nova textura, transformando o mundo, as vidas, a cultura, os valores.
Rogo ao Senhor, que os fundamentos assentados permitam uma nova compreensão da vida que temos em Cristo Jesus, conheçamos mais de Deus, do seu plano, sua a graça, do nosso enganoso coração e o propósito de nossas vidas.
Perceber o Senhor conduzindo todos os fatos, o privilégio da intimidade bendita, vê-Lo como Ele é, o Senhor da história. É nEle que depositamos nossas vidas, a Ele honra e louvor por todos os séculos.
Reafirmamos que toda a nação vivia a esperança e a inquietude da vinda de seu Messias prometido que traria a libertação e o consolo desejados.
Assim, pois, lancemos luz, acendamos nossas lâmpadas, há azeite suficiente para caminharmos em direção ao conhecimento do alto. Disponhamos nossos corações, clamemos ao Senhor para que a colheita seja farta.
A exclusividade do Messias
Começamos entrando em meio a história do povo judeu, à época do Senhor. Aspecto especialmente importante a respeito do Messias é sua relação exclusiva com a nação de Israel. Havia no seio da nação de Israel a expectativa da vinda do Messias, o ungido de Deus. Nenhuma outra nação debaixo do sol nutria essa esperança, tal sentimento era exclusivo do povo de Israel, apenas este povo, pois, nenhum outro fora escolhido pelo Deus Altíssimo em aliança eterna:
“Assim diz o SENHOR, que dá o sol para a luz do dia e as leis fixas à lua e às estrelas para a luz da noite, que agita o mar e faz bramir as suas ondas; SENHOR dos Exércitos é o seu nome. Se falharem estas leis fixas diante de mim, diz o SENHOR, deixará também a descendência de Israel de ser uma nação diante de mim para sempre”. (Jr 31.35,36).
Esta promessa dá-nos justificada certeza que Israel será sempre uma nação diante do Senhor. E declarações textuais do Mestre deixam-nos mais firmes quanto a exclusividade da vinda do Messias: “Mas Jesus respondeu: Não fui enviado senão às ovelhas perdidas da casa de Israel” (Mt 15:24). Deus se fez carne e veio para os seus, em cumprimento da aliança com Abrão.
A eternidade do Messias
Dentro deste relacionamento com Israel havia a convicção que o Messias de Deus, não abandonaria Israel, pelo contrário, seria seu libertador. Portanto, a morte do Messias era inaceitável. A redenção de Israel não ocorreria, caso seu Redentor morresse. Este sentimento estava sedimentado na mente e nos corações dos filhos de Abraão. Isto justifica a reação dos judeus no cap. 12 de João:
“Nós temos ouvido da lei que o Cristo permanece para sempre, e como dizes tu ser necessário que o Filho do Homem seja levantado? Quem é esse Filho do Homem?”.
Eis os judeus ante o anúncio da morte do Senhor. Se Jesus era o Messias, e isto já o indicara por diversas vezes, sua morte estava em desacordo com a esperança nacional, não era esse o ensino repetido diariamente pelos doutores da Lei.
O servo sofredor descrito por Isaías (53), que experimentaria a morte, na complexa textura dos personagens proféticos não se sobrepunha ao Messias prometido. O Cristo de Deus não tinha princípio de dias, nem fim de existência, a nação não negociava sua eternidade, o Cristo permanece para sempre.
O anúncio de sua morte é a declaração de sua falsa messiandade. Para aquele povo era a certeza da impossibilidade de Jesus ser o Cristo, o Messias.
A narrativa carregada de frustração e tristeza na estrada de Emaús, ante a morte de Jesus garante que os israelitas esperavam o Messias eterno, sem passar pela experiência da morte: “Ora, nós esperávamos que fosse ele quem havia de redimir a Israel; mas, depois de tudo isto, é já este o terceiro dia desde que tais coisas sucederam.”
Assim, o Messias esperado não passaria pela morte e seria exclusivamente para o povo de Israel.
Mais azeite será consumido para mantermos acesas nossas lâmpadas, para contemplarmos a sabedoria do sempiterno Deus.
O Messias morre, e morre pelos seus amados
Prosseguimos e chegamos ao cap. 13, onde se nos abre uma perspectiva completamente diferente: “Ora, antes da Festa da Páscoa, sabendo Jesus que era chegada a sua hora de passar deste mundo para o Pai, tendo amado os seus que estavam no mundo, amou-os até ao fim.”
Estamos diante de um texto que nos arremessa ao interior de uma nova dimensão da verdade revelada. A exclusividade e eternidade do Messias estavam lançadas por terra. “Passar deste mundo para o Pai” implica em sua morte, mas, segundo a mente nacional do judeus, o Cristo de Israel não poderia morrer. E depois lemos:“Amados os seus que estavam no mundo”, a esperar Israel surgem os Amados. O Israel das Alianças, da esperança que não poderia ser esquecida, não fora citada no propósito da morte impossível do Messias.
Toda a promessa em torno do Libertador emoldurava-se de um cenário de triunfo eterno em favor dos filhos de Abraão, como a penha sob o martelo, esta esperança particular fora esmiuçada pelos verdadeiros e ternos desígnios e propósitos de Deus em Cristo, antes da fundação do mundo. Israel fora enganado em seu próprio orgulho e cegueira, esteve tão devotado aos rigores de sua Lei, não se apercebeu que fora visitada pelo Deus Emanuel.
Permitimo-nos, desta feita, entender melhor toda motivação e esforço realizado pelos líderes judeus em negar a ressurreição de Cristo. Em seu sepultamento Jesus precisaria ficar retido pela morte, essa nova dimensão do Messias, os apavorava. A possibilidade da ressurreição do Senhor subverteria toda a religiosidade praticada, toda extemporaneidade supérflua que caracteriza as doutrinas de fantoches que ainda hoje se multiplicam.
A fidelidade eterna de Deus
Descortinava-se, assim, a majestosa obra de Deus, o raiar do cumprimento da promessa feita ao seu servo Abraão: e em ti serão benditas todas as famílias da terra.
Mas é sempre bom lermos:
“Pergunto, pois: porventura, tropeçaram para que caíssem? De modo nenhum! Mas, pela sua transgressão, veio a salvação aos gentios, para pô-los em ciúmes. Ora, se a transgressão deles redundou em riqueza para o mundo, e o seu abatimento, em riqueza para os gentios, quanto mais a sua plenitude!” (Rm 11.11,12).
Melhor ainda relermos:
“Assim diz o SENHOR, que dá o sol para a luz do dia e as leis fixas à lua e às estrelas para a luz da noite, que agita o mar e faz bramir as suas ondas; SENHOR dos Exércitos é o seu nome. Se falharem estas leis fixas diante de mim, diz o SENHOR, deixará também a descendência de Israel de ser uma nação diante de mim para sempre”. (Jr 31.35,36).
Há mistérios e desdobramentos que a história fará surgir como luz da manhã que brilhará mais e mais até ser dia perfeito, os planos do Altíssimo serão todos realizados.
A nova história
Continuemos, tiremos nossas sandálias, pois pisamos em terra santa. Os ensinos que vêm dos céus trazem o aroma de salvação, que são ladainha e cansaço para aqueles que, enganados, julgam-se sábios e de corações bondosos. Que o Senhor lhes conceda misericórdia; a nós discernimento, pois clamamos ao Santo Espírito que mantenha nossa luz acesa, conduzindo-nos por veredas santas, trazendo refrigério para mentes humildes e corações regenerados.
Cuidadosamente afirmamos que o anúncio da morte do Messias e a nova condição de Israel, serviram como plainas para prepararem o caminho do Senhor. Surgem perguntas: Com a morte de Messias e a substituição de Israel pelos amados, qual seria o novo plano e quem o realizaria?
O velho homem
O novo plano agora será conduzido de forma a cumprir a promessa de Deus feita a Abraão de abençoar todas as famílias da terra. Resta-nos saber, como será feito? Lembremos o que Senhor diz: Não há um justo, nenhum sequer; salmodiemos: Ao irmão, verdadeiramente, ninguém o pode remir, nem pagar por ele a Deus o seu resgate (Sl 49.7).
O fracasso de Israel sonorizado pelo profeta Isaías:
“ouvi a voz do Senhor, que dizia: A quem enviarei, e quem há de ir por nós? Disse eu: eis-me aqui, envia-me a mim”,
dá-nos o caráter do homem diante de Deus. Deus com ninguém pode contar para glorificar seu nome. Ademais, as Escrituras registram a vergonhosa saga humana.
1. No Éden, Adão fracassou e o juízo trouxe a morte para todos, e a graça fez derramar o sangue inocente em favor de um casal;
2. Nos dias de Noé a maldade foi multiplicada e o juízo trouxe água sobre toda terra e a graça permitiu a adoração e fez derramar o sangue inocente em favor de uma família;
3. Na nação escolhida o Senhor foi rejeitado e o juízo trouxe cegueira para Israel e a graça fez derramar o sangue de Deus em favor dos crentes por toda a terra.
Não acredito, as palavras do Senhor não me deixam acreditar que a vinda de Seu Filho, sua morte e ressurreição, a monumental história da redenção humana, fosse entregue aos cuidados do homem do fracasso, do homem da mentira, do engano, que vive apenas pela superabundante graça de Deus.
Que homem em si seria capaz para sublime obra de glorificar o nome do Altíssimo?
Convido a todos a si avaliarem.
1. Antes preciso alertar primeiro a mim e depois a cada um que aqui está.
2. Afastemos as nossas mentes do cântico das trevas que nos sugere a sabedoria que não temos;
3. da nossa bondade que se alimenta dos interesses pessoais;
4. da autonomia do mérito que sempre nos coloca acima das nuvens, quando 5. habitamos no pó vil da mediocridade cotidiana;
6. dos conselhos pérfidos que é dogma na assembléia dos santos.
Temos enganado a nós mesmos, pois supomos, ao contrário das Escrituras, que em nós habita algum bem, que decidimos os destinos e mudamos os decretos eternos do Senhor. Pelo contrário, temos ofertado nossa primogenitura em troca da ribalta do mundanismo religioso.
É urgente, precisamos nos perceber, estamos sem autoridade, sem voz para proclamar a santidade do Senhor; somos como mulas, não reconhecemos nosso dono.
Rasguemos nossas vestes, arrependamo-nos no pó e na cinza, subamos aos outeiros, aos montes, no alto das cidadelas e confessemos: Não somos confiáveis para tão sublime obra. Este é o brado de corações santos, a paz serena da convicção do conhecimento do Senhor: Não somos confiáveis para tão santa obra, choremos o choro de João na desolação diante do livro do Cordeiro (Ap. 5.4).
À parte do Santo concluo: Senhor, afasta-te de mim, pois sou pecador.
O novo homem
Se Israel não se apercebeu do Messias, e foi deixado de lado, se não há homem digno para conduzir o estandarte da glória de Deus, pois, em nós nada é confiável, então o que nos faz sentar nesta manhã para ouvir palavras e desafios celestes?
“Não vos deixarei órfãos”, são palavras vindas do céu, é o socorro para que possamos ouvir a verdade do Senhor. O sangue de Emanuel lavando nossas almas, levando nossas culpas e habitando em pecadores. Permitindo-nos, a inconfiáveis, a coparticipação da sua natureza. Enviando Seu Santo Espírito que poderosamente move nossa natureza em direção ao que é verdadeiro, respeitável, justo, puro, amável. E nos sentamos aqui para ouvirmos o sopro da vida: “Em ti serão benditas todas as famílias da terra”. A eterna fidelidade de Deus nos chamou dos quatro cantos da terra, conforme prometera a Abraão.
A promessa, como a suave brisa que refresca a alma, do longínquo Harã, atravessou mares, campinas, custou vidas – quantas vidas, até chegar aos nossos corações. Não sabíamos que a vida vivia, que os louvores cantavam, que a esperança não estava em nós, senão no santo de Deus, nosso Salvador Jesus.
Ah! Por todo o universo ecoa a graça de Deus. É por ela que vivemos novas vidas, vidas de prazer no nome do Altíssimo.
A fidelidade eterna de Deus
O texto que lemos antecipa a mais profunda mudança jamais realizada.
A colheita dos frutos nos mostra que servimos ao Senhor da história, a Testemunha Fiel, que em Abraão estendeu seu braço terno e bondoso e acariciou-nos dizendo: Tu és meu.
Comemoremos o Senhor, multipliquemos as aleluias com corais santos façamos chegar nos céus nossas vozes: Só nosso Senhor é Deus.
A Ele honra, glória e louvor para todo sempre.