Para quem iremos nós? (Jo 6)

A leitura de João cap. 6, se encerra com o questionamento a respeito dos efeitos do ensino do Senhor sobre sua divindade, e seu poder em conceder a vida eterna. E assim, ao mesmo tempo, deixava claro a inutilidade da religiosidade humana (56-63). As pessoas que lhe ouviram, objetaram-se à vida eterna oferecida por, e em Jesus.

A argumentação contra Jesus teve início ao afirmar sua origem celeste (divina, v. 41). Os judeus com base em suas convicções e conveniências religiosas, não permitiam um relacionamento real com Deus, insistiam em vê-lo apenas como uma figura local, um mestre com bons ensinos, negaram a si mesmos o reconhecimento que Deus (Emanuel) os visitava. 

A história do povo judeu, e as distorções adicionadas ao longo do tempo, forjaram na nação a soberba necessária para assim construírem um padrão meramente litúrgico no relacionamento com Deus.  

A presença e os ensinos de Jesus levavam a todos a renunciar às suas tradições, sua soberba e objeto de adoração.

Nem mesmo seus discípulos, que conviveram com ele, presenciando seus sinais, renunciariam às suas religiosidades em favor da verdade do Senhor, e escolhendo a si mesmos, o abandonaram (v. 66).

Por fim, Jesus confronta os “12”. Em troca lemos: “Senhor, para quem iremos nós? Tu tens as palavras da vida eterna.

Tão perto estiveram todos do Senhor: a multidão, os judeus e os discípulos que o abandonaram. E ainda em meio ao que o reconheceram, suas palavras da vida eterna estava Judas… que por fim seguiu seu próprio conselho. 

Nossa gratidão ao Senhor por nos manter.

Onde está nosso coração – A parábola do Semeador

O período Inter testamentos, em torno de 400 anos, foi marcado pela ausência de profetas na terra de Judá, ainda que dispunham dos textos da Lei, Salmos e Profetas (Lc 24.44). tal particularidade na vida dos judeus, levou-os a construir uma vida religiosa cuja ênfase privilegiava os aspectos exteriores da “fé”. Permitindo que interesses seculares conflitassem e até mesmo subjugassem a palavra de Deus.  

A aparência tomou lugar à observação do caráter de Deus, e a exaltação pessoal retirou a glória de Deus da adoração. Assim, a cultura religiosa, de si mesma, estabeleceu uma visão particular em que Deus foi subordinado, dificultando a percepção do que se cumpria diante de seus olhos. 
As parábolas, assim, são mensagens para desconstruir essa visão, são alertas para reconduzir o povo em direção ao verdadeiro Deus, ao real conteúdo das Escrituras. Fazê-los capazes de perceber o que viviam, pois estavam diante do seu Deus, Emanuel. 
A Parábola do Semeador
Nessa direção caminha o contexto anterior (cap. 12) Jesus combate a ilusão da aparência religiosa. No v. 7, a supremacia da misericórdia ao sacrifício. No v. 8, o serviço ao Senhor do sábado estava acima da formalidade do sábado. Que as expressões externas revelam a maldade do coração (v. 34).  Conforme relatou Marcos (4.13) é por esta parábola que as demais ganharão sentido.
O próprio Senhor a explica, dá significado aos seus símbolos. A semente é a palavra do reino, o solo é o coração (Mt 13.19), a partir disso fica claro que a parábola é utilizada para identificar a forma com que as pessoas reagem à audição do evangelho (boas novas).  
Algumas advertências anteriores permitem o destino das árvores que não produzem segundo o esperado pelo Senhor. em Mateus 3.10 e 7:19 Toda a árvore que não dá bom fruto corta-se e lança-se no fogo. E ainda em Mateus 12:33 diz que porque pelo fruto se conhece a árvore.
Sim, o Senhor, primariamente, não trata de tempo de conversão, tampouco de conhecimento, mas sim dos próprios feitos de Deus em suas criaturas, a manifestação (ou ação) do homem interior.
Há quatro tipos de solo em que são lançadas as sementes: junto ao caminho, sobre as pedras, entre os espinhos e em boa terra.
EVANGELHO
JUNTO AO CAMINHO
Mateus 13
(19) Ouvem 
(19) Não a entendendo
(19) Maligno arrebata
Marcos 4
(15) Ouvem
(15) Logo satanás tira a palavra semeada
Lucas 8
(12) Ouvem
 
(12) Diabo tira do coração para não se salvem crendo
Percebe-se o poder de satanás sobre a mente humana, a despeito da incapacidade natural.

2Co 4:4 Nos quais o deus deste século cegou os entendimentos dos incrédulos, para que lhes não resplandeça a luz do evangelho da glória de Cristo, que é a imagem de Deus.  

EVANGELHO
SOBRE AS PEDRAS
Mateus 13
(20) Ouvem
(20)
Logo recebem com alegria
(21) Não tem raiz em si mesmo, pouca duração
(21)
Angústia e a perseguição, por causa da palavra, logo se ofendem
Marcos 4
(16) Ouvem
(16) Logo tem prazer recebem
(17) Não tem raiz, são temporários
(17) Tribulação ou perseguição, por causa da palavra, se logo escandalizam
Lucas 8
(13) Ouvem
(13) Recebem com alegria
(13)
Creem por algum tempo, mas não tem raiz
(13)
Na tentação se desviam
A falta de reflexão, a motivação religiosa inicia a operosidade, mas em conflito com a verdade, escolhem a liberdade religiosa. São temporários quanto à submissão e os compromissos reais, mas podem ficar durante muitos anos em bancos e serviços religiosos.
EVANGELHO
ENTRE OS ESPINHOS
Mateus 13
(22) Ouvem
(22) Cuidados do mundo, sedução das riquezas 
Sufocam, fica infrutífera
Marcos 4
(18) Ouvem
(19)  Cuidados do mundo, enganos das riquezas, ambições e outras coisas
(19) Sufocam, fica infrutífera
Lucas 8
(14) Ouvem
(14) Cuidados e riquezas e deleites da vida
(14)
Sufocado. Não dão fruto com perfeição
São aqueles que optam por seus planos e prazeres, por suas ambições – o mundo, dinheiro, ambição, prazeres, fama etc. Não devemos achar que esses, obrigatoriamente, estão fora da Igreja.
Nem todo o que me diz: Senhor, Senhor! Entrará no reino dos céus, mas aquele que faz a vontade de meu Pai, que [está] nos céus. (Mt 7:21)
EVANGELHO
 BOA TERRA
Mateus 13
(23) Ouvem
(23) Compreendem
(23) Dá fruto
Marcos 4
(20) Ouvem
(20) Recebem
(20) Dá fruto
Lucas 8
(15) Ouvem
(15) Conservam no coração honesto e bom
(15) Dá fruto com perseverança
Esses superam o poder de satanás, superam a religiosidade, os encantos e perigos do mundo.
No Evangelho de Lucas (ao final desta parábola) está escrito…
“portanto vede como ouves!”  (8.18)

Ariano Suassuna e a mente das redes (Pós-moderna)

“O sonho é que leva a gente para a frente. Se a gente for seguir a razão, fica aquietado, acomodado”. Ariano Suassuna

A frase é atribuída a Ariano Suassuna, um grande escritor, que conseguiu de forma particular expressar a preciosidade e singeleza do sentimento nordestino.

Devemos entender sua afirmação no âmbito do mundo das redes (pós-moderno), um ambiente em que não existem fundamentos ou valores permanentes. Onde o prestígio, a fama e as formas exaltam-se sobre a coerência e, consequentemente, sobre a racionalidade.

Assim, a mente humana vive sob um processo de dislexia, onde os significados perderam “o significado”. Não importa o que se fala, tampouco o que se ouve, mas sim, apresentá-lo na rede. E o ciclo do (que hoje) é tido por conhecimento – tudo faz sentido.

Logo, o prejuízo à razão é compensado pelo frenesi da exposição na rede. É a oportunidade (impulso) impondo-se ao conteúdo (significado), e o gosto de cada observador determina a “verdade”. (atende à urgência da rede).

Pois bem, na frase, “O sonho é que leva a gente para a frente. Se a gente for seguir a razão, fica aquietado, acomodado”, o autor coloca em oposição o sonho (ou sentimentos) à razão – critérios (nossas avaliações).

Cabe avaliar (usar a razão). A sugestão da razão levar ao imobilismo, é muito estranha (poderia ser dito, é absurda). Pois, é a razão que sustenta o ser, dá-lhe referência, o difere dos animais. Ainda mais, permite o questionamento, a literatura, a ciência, a transferência de conhecimento entre as gerações.

Ao sugerir que a razão leva ao imobilismo, fortalece a ideia prevalente (ideia da rede) que nada tem significado em si mesmo, que as percepções individuais determinam a realidade. Logo, todos, mesmo que em oposição, estão certos, destruindo o mundo que habitamos (dos significados).

Há perda da percepção do conflito de conteúdo, ou seja, Suassuna está certo, como também todos que apresentam argumento contrário à sua tese. Pois, a mente do presente século, aceita a possibilidade de argumentos excludentes entre si, serão ambos possíveis. Ou seja, o observador, sem necessidade do seu significado, determina a realidade.

Esta perturbação experimentada por esta geração é resultado da supressão da verdade (razão). Todos perderam referência, e a novidade (sentimento) determina a conduta, conduz a experiência. Negar a razão, deixando levar pelos sentimentos é rebaixar-se aos animais. É esse o ponto da questão: a mente das redes (Pós-modernismo) faz com que o mundo esqueça sua humanidade.

Porque virá tempo em que não suportarão a sã doutrina; mas, tendo coceira nos ouvidos, amontoarão para si doutores conforme as suas próprias concupiscências; 2 Tm 4:3

Carta aos apologistas

Acho que são realmente importantes as estratégias estabelecidas por Deus para expansão da comunicação do Seu amor aos homens. Em todas as áreas do conhecimento humano, em todas regiões, sendo-nos oportuno ou não. Foi para isso que fomos conquistados e nos foi confiado o ministério da Reconciliação!

Neste movimento se encontram aqueles que apresentam as “evidências do amor de Deus”, da forma mais racionalmente possível – os apologistas. 

Entretanto é necessário atentar para os riscos que envolvem tal tentativa de conexão. Pois, tenta-se duas extremidades absolutamente antagônicas: a mente natural do homem, com seus saberes e convicções de um lado; e do outro a mente de Deus.

São evidentes os riscos da abordagem adotando as sabedorias de palavras, sofismas e filosofias. São evidentes os riscos de tornar vã a palavra da Cruz.

Devemos ter absoluta convicção que não se pode lançar outro fundamento, senão a Cristo e Este crucificado. Que é escândalo ou loucura para aqueles que ouvem. Mas, Deus fará ouvir a esses, desde que lhes seja anunciada a palavra da cruz. Não lhes podemos negar a cruz do Senhor. Pois, Deus destruirá a sabedoria do mundo (Primeira Coríntios 1.19), portanto a adoção das estratégias do mundo não foi autorizada por Deus.

Devemos anunciar o amor de Deus sem jamais esquecer de que anunciamos a loucura de Deus… pois ela contém sua sabedoria e seu poder para salvação. 

Não creiamos que nossos métodos e palavras exaltam mais o Senhor que Seu Filho, e este crucificado. 

E EU, irmãos, quando fui ter convosco, anunciando-vos o testemunho de Deus, não fui com sublimidade de palavras ou de sabedoria. Porque nada me propus saber entre vós, senão a Jesus Cristo, e este crucificado. (1 Coríntios 2.1-2)