Há um cristianismo particular na web – O cristianismo virtual. Acessá-lo, conhecê-lo, permite-nos identificar algumas de suas características, e por elas perceber seus ensinos e advertências.
É preciso entender que sua origem, em grande monta, surgiu sem regras ou disciplinas de conteúdo, cuja autoria dependeu e depende exclusivamente da disposição pessoal de nele estar.
Isto me tem levado a considerar meu relacionamento e contribuição para esse cristianismo. E mais, saber qual a verdadeira natureza e motivação que alimentam esse universo tão complexo e dinâmico. É possível observar que há textos com fundamento e propósito cristãos, mesmo que sejam em minoria. Não são esses que me levam a consideração aqui postada.
A primeira questão envolvida é: que modelo devo adotar ao avaliar esse mundo?
Preciso percebê-lo, já que cristão se propõe, como unidade. Essa percepção é necessária, pois, resguarda o ideal divino, formarmos um só corpo. Não poderei sob qualquer pretexto afastar-me desta perspectiva.
“Eu não rogo somente por estes, mas também por aqueles que, pela sua palavra, hão de crer em mim; para que todos sejam um, como tu, ó Pai, o és em mim, e eu, em ti; que também eles sejam um em nós, para que o mundo creia que tu me enviaste”. (Jo 17.20-21)
e mais
“Ainda tenho outras ovelhas que não são deste aprisco; também me convém agregar estas, e elas ouvirão a minha voz, e haverá um rebanho e um Pastor.” (João 10:16 ).
Assim, é mister afirmarmos que a unidade é real e conduzida por um Pastor real, e esta regra simples tem orientado a igreja ao longo dos séculos.
Percebe-se que o cristianismo virtual NÃO preserva esta característica. É um corpo auto-determinado.
A segunda questão envolvida é: que sabemos sobre Unidade na história do cristianismo pré-virtual? Que matiz de unidade podemos retirar do cristianismo recente?
Convém ressaltar que as diferenças sempre estiveram presentes nessa unidade, e as igrejas locais manifestavam a expressão maior dessa solidez.
Como resultado prático, podíamos perceber a existência de um corpo doutrinário sólido e escriturístico conduzindo a vida local. E que para qualquer desvio, havia mestres que pela Palavra formulavam o ajuste necessário, reconduzindo o santo às veredas da sã doutrina.
Sabíamos como pensavam Presbiterianos, Batistas, Wesleyanos e outras linhas dos cristãos históricos. Havia um corpo de doutrina organizada representando cada grupo; discordância e respeito estavam aliados a causa de Deus. Por outro lado, unânimes refutávamos as doutrinas satânicas dos católicos romanos, espíritas, testemunhas de Jeová, os sabatistas e demais seitas; as novidades pentecostais; e o mercantilismo neo-pentecostal. Não ousávamos a comunhão por meio de truques litúrgicos, assim, marchávamos sendo Jesus o Senhor, para Sua honra e glória.
“Tende cuidado para que ninguém vos faça presa sua, por meio de filosofias e vãs sutilezas, segundo a tradição dos homens, segundo os rudimentos do mundo e não segundo Cristo”; (Cl 2:8)
Havia discernimento e sensatez, e mais, entendíamos o Separatismo, e mais entediamos o Fundamentalismo. As Escrituras formavam um guia sensato para condução da vida pessoal e local (1 Co 15.11-13).
Não havia sujeição às misturas entre o profano e o sagrado; rejeitávamos o envolvimento de organizações cristãs à política partidária, temíamos dar qualquer vantagem a satanás, pois sabíamos de seu propósito. Havia convicção que a institucionalização das questões políticas, esportivas e de lazer ficara fora dos propósitos deixados por Cristo para sua Igreja. (Rm 12.2).
Fundamentalmente a Unidade tinha face, tinha identidade, ouvíamos: “e tinham conhecimento de que eles haviam estado com Jesus”. (At 4.13). Podíamos levantar os estandartes e com gritos de vitória, pela terra proclamar o Evangelho da Graça de Nosso Senhor, apenas pela graça.
Não encontramos a face desse cristianismo, os valores, a unidade é apenas uma retórica. O que formamos realmente?
Assim, podemos tomar, por contraste, o que hoje temos por cristianismo, o virtual:
• Leiamos os perfis dos autores, quantos adjetivos pessoais, mesmo a gratidão sugere exaltação pessoal; “esquecemos que somos apenas pecadores remidos”.
• NÃO há acentuada tentativa de projeção pessoal? – condenamo-nos naquilo que acusamos os tele-pastores.
• A busca por seguidores NÃO é maior que o esmero com a palavra, com a exultação do Senhor?
• Confessamos ser contrária às Escrituras a existência de pastoras e, ao mesmo tempo, nos associamos e compartilhamos do mesmo ambiente virtual com elas. NÃO seria hipocrisia?
• A linguagem adotada por muitos em NADA se diferencia do linguajar mundano. Que honra há nisso?
• Fala-se dos políticos sem citar uma só base bíblica. NÃO são os mesmo métodos por eles utilizados? E pior, argumenta-se que a motivação é pela CAUSA. (?)
• Pede-se e apoia-se alguém apenas por ser evangélico? E sua vida?
• O amor virtual não permite refutar as heresias. Em nome do amor é vilipendiado o sangue de Cristo. Ainda chamamos a isso de amor?
O que vemos – e compartilhamos – são apenas amostras daquilo que povoa a mente e os ideais do povo que se diz cristão, que a palavra chama de apostasia.
Temo que, enredados pelos nossos próprios ventres, estejamos perdendo os verdadeiros ideais cristãos e pasteurizando as doutrinas do Senhor. Estamos subindo a Canaã com um misto de gente em nosso derredor, e esquecemos:
“Todavia, falamos sabedoria entre os perfeitos; não, porém, a sabedoria deste mundo, nem dos príncipes deste mundo, que se aniquilam; mas falamos a sabedoria de Deus, oculta em mistério, a qual Deus ordenou antes dos séculos para nossa glória a qual nenhum dos príncipes deste mundo conheceu; porque, se a conhecessem, nunca crucificariam ao Senhor da glória.” (1 Co 2.6-8)
Este é o texto para minha meditação pessoal – permitam-me aplicá-lo no singular:
“Hipócritas, sabeis interpretar o aspecto da terra e do céu e, entretanto, não sabeis discernir esta época?” (Lc 12:56)
Ao Senhor toda honra, louvor e glória