AS CIRCUNSTÂNCIAS
Paulo não se encontra na Igreja de Corinto (1 Co 5.3); obtém informações sobre as desordens que ocorriam na Igreja (11.18,33-34; 14.40).
Está diante de um grande dilema: São dons de Deus ou pura carnalidade?
Pois, tem experiência a respeito do dom (At 19), e conhece também a realidade da Igreja (1.4-7, 11, 16, 26), que bem poderia expressar “dons” não vindos do Senhor (1 Co 12.1-3)
Assim, em sua resposta, não poderia proibir a prática do dom, por outro lado, pelos resultados – desordens, sabia que deveria interromper tais “manifestações”.
Logo, devemos ler os textos de 1 Coríntios sobre tal enfoque: Paulo não questiona a existência do dom, contudo, o mantém associado aos ensinos do Livro de Atos.
Assim, os capítulo de 12 a 14 contém instruções para que a Igreja em Corinto (1) possa validar as expressões e (2) e ponha em bom termo uso do dom. Era, pois, necessário a inibir os falsos dons (carnalidade), mas, ainda assim, conceder a liberdade de exercê-los. Tudo para restabelecer a ordem nas reuniões (11.34; 14.33, 40).
É importante rejeitar a sugestão (quase um devaneio) da existência de um dom de línguas no livro da Atos e “outro dom de línguas” no Livro de 1 Corinto.
O LIVRO DE ATOS E O DOM DE LÍNGUAS
É adequado consolidar quais os ensinos que podem ser obtidos pelas experiências vividas com a vinda do Espírito e o dom de línguas. Não podemos esquecer que o evento principal foi a vinda do Espírito, sendo o dom apenas sua expressão.
O QUE FOI
Um sinal para os crentes judeus;
O sinal da vinda do Espírito Santo prometido pelo Pai;
Percepção que incluiria além de judeus, também os gentios como povo de Deus O Evangelho chegaria aos confins da terra.
O QUE NÃO FOI
Não foi utilizado para evangelismo, ensino ou adoração; não foi concedido em resposta a pedido de oração ou algum tipo de consagração; não se repetiu. Ocorreu em grupos distintos: Judeus e prosélitos, samaritanos, Gentios, discípulos de João Batista. Não há indícios do dom ser manifestado repetidas vezes no Livro de Atos, mas que ocorreu apenas indicar que determinado grupo experimentava o ocorrido com os judeus crentes (At 2).
O ENCHIMENTO DO ESPÍRITO
As passagens em que claramente houve a manifestação do dom de línguas, temos que ficaram cheios do Espírito (2.4), mas as duas outras ocorrências não ocorrem o enchimento do Espírito (10.44-45) e (19.6). Assim, não é correto afirmar que o falar em línguas é uma expressão do enchimento do Espírito.
I CORINTIOS CAP. 12
Paulo reafirma a veracidade e variedade de dons, mas estabelece um padrão:
(1) São úteis (1 Co 12.7);
(2) Edificação do corpo de Cristo – cuidado e unidade (1 Co 12.25),
(3) Servir aos outros e não para si mesmo (1 Co 12.28).
I CORINTIOS CAP. 13
Deve-se observar que o Apóstolo escreveu este capítulo para fundamentar e qualificar a prática da comunhão. A observação do amor, que em linhas gerais seria servir ao outro, dá sentido à comunhão, edificação do corpo… ao efetivo uso dos dons.
I CORINTIOS CAP. 14
Ao chegarmos neste capítulo devemos resgatar o que “aprendemos” no Livro de Atos.
As “LÍNGUAS” do Livro de Atos são idiomas (meramente humanos) e são confirmadas pelas orientações do Apóstolo. Verifique o que é dito:
Deveriam ser Palavras inteligíveis (9); existem NO MUNDO. Cita ainda o termo estrangeiro ou bárbaro (10-11, 18-19). E exige que as palavras devessem ter “entendimento” (16).
A “INTERPRETAÇÃO”
No Livro de Atos, o termo Interpretação não pode, nem poderia significar tradução. Na vinda do Espírito Santo, e a manifestação do dom, Pedro é questionado pelos “estrangeiros” que estavam em Jerusalém (At 2.7, 13), pois, ouviam aqueles nativos falarem em seus idiomas, sim, eles entendiam em suas próprias línguas nativas. Pedro, óbvio não precisaria traduzir, ele simplesmente deu “sentido ou significado” ao fato, associando-o à promessa do Pai. Traduzir negaria a natureza do dom. E, novamente ocorreu em Atos 11, quando no questionamento de sua ida à casa de Cornélio. Assim, devemos reafirmar que o dom de interpretação não é dom de tradução. Paulo não se utiliza da palavra tradução para se referir ao dom.
EXIGÊNCIAS PARA PRÁTICA DO DOM DE LÍNGUAS
A carta exige o dom de interpretação (não é tradutor!!!); exige que haja edificação da Igreja (12-13), assim, sem interpretação o dom não deve ser manifestado, deveria a pessoa ficar calada (27, 28).
Objeta-se o caso de 1 Co 14.2. onde está escrito que falar em línguas, fala em mistérios, fala a Deus. Deve-se utilizar das orientações: Sem intérprete os mistérios não são de importância para Igreja… ficar calado.
Afirmam outros que Paulo tinha o dom (14.18).
Mesmo que o Apóstolo afirme sua capacidade, não há registro desse uso. E se a mente ficava infrutífera (14.14), Paulo preferia não o utilizar (14.19). É possível que Paulo utilizasse seu conhecimento e sua experiência para afirmar a falta de propósito do dom para uso contínuo na Igreja. Pois logo depois alerta para NÃO SERMOS MENINOS (14.20).
DEIXANDO A MENINICE… SÃO OU NÃO PARA OS INFIÉIS?
Paulo utiliza-se de uma profecia de Isaías para afirmar que as línguas, SIM, são para os infiéis (22), logo depois afirma que as línguas NÃO são para os infiéis (23). A exortação em direção à maturidade é entender que o dom nos planos de Deus visa a Israel, e que seu propósito. Que falará por meio de outros povos, e mesmo assim Israel não ouvirá o Senhor. contudo quando a igreja se reunir… falar em línguas soará como loucura. Pois o propósito para Igreja já se consumou… lá no Livro de Atos.
CONCLUSÃO
O dom de línguas é real e concedido por Deus, trata-se de idiomas conhecidos, falado pelos povos da terra;
Foi dado como um sinal para os primeiros crentes, saídos do judaísmo, conforme a promessa do Pai; o que exigiu relacionar a manifestação à profecia (interpretação);
Portanto, o dom de línguas sem relacionar-se com o corpo das profecias, seria destituído de interesse para igreja, portanto deveria ser rejeitado. As línguas atuam e atuarão no plano das profecias – Missões (Mc 16.17) como um instrumento contra os judeus infiéis, pois mesmo assim não ouvirão o Senhor (1 Co 14.21).