A parábola das dez virgens


Como interpretar uma parábola
Critérios gerais
Devemos adotar como critério de análise de parábolas os mesmos adotados pelo Senhor quando da Parábola do Semeador. 
1.   Buscar seu ensino geral;
2. Identificar, quanto possível, personagens pela participação desses na construção desse ensino geral.

Em muitos casos, tal padrão exige o conhecimento de particularidades culturais da época, o que torna o “explicar” parábolas um exercício complexo e difícil. Isso decorre do fato que Jesus é judeu e falou – as parábolas – com judeus sobre “coisas” judaicas dentro do tempo e do espaço.
Um alerta
Sabendo que a parábola é um recurso de linguagem cuja finalidade é ilustrar e fundamentar o ensino, e não o reproduzir integralmente, devemos evitar a pormenorização, isso pode levar à sua “personalização” – dar a parábola o que ela não tem. Ou apenas “aplicarmos suas verdades”, que na realidade estamos “rezando um catecismo religioso das nossas convicções” e não falando das grandezas do Senhor.

Para entendermos esta parábola devemos saber que ela faz parte e completa um discurso do Senhor sobre os acontecimentos futuros.

Então leiamos a partir do contexto em que se encontra a parábola (Mt 24.1ss):

…chegaram-se a ele os seus discípulos em particular, dizendo: Declara-nos quando serão essas coisas, e que sinal haverá da tua vinda e do fim do mundo. (Mt 24:1-3)


Toda argumentação a partir deste ponto, chegando à Parábola das dez virgens, está relacionada ao questionamento dos discípulos: 
Quando serão essas coisas – destruição do templo; 
O sinal da vinda do Senhor; 
E os sinais do fim do mundo.

Tomando o questionamento dos discípulos, é possível que tais eventos venham a ocorrer em momentos diferentes. Pois, não faz sentido que eventos simultâneos – ou o mesmo evento – apresentem sinais diferentes antecipando sua consumação.

E seguem as respostas dadas pelo Senhor:
Advertências para que eles não fossem enganados, (Mt 24:4) alertando-os para o surgimento de falsos Messias (Mt 24:5). Tal argumento tem sentido apenas para quem agurda o Messias, Israel- e isso não se aplica à Igreja, que jamais esperou ou espera por um Messias!
E continua: 
Os que estiverem na Judeia fujam para os montes; e sobre O inverno e 
sábado,  deixando claro uma região específica na terra; um dia especial 
para um povo (Mt 24:16,20)  
Os detalhes aqui apresentados permitem identificar um povo em particular e geograficamente localizado. Tomando o clima, locais e religião próprio é possível relacioná-los aos judeus: 
Somente o uso de uma hermenêutica equivocada poderia, neste contexto, desconsiderar que tais descrições relacionam-se com os judeus. Não podemos tirar Israel – nascidos de Isaque, descendentes na carne de Abraão, para os quais Deus tem promessas irrevogáveis – do centro dos acontecimentos aqui descritos.  

O contexto anterior imediato
A partir do v. 37, utilizando o dilúvio do tempo de Noé, é introduzido o conceito de juízo da parte de Deus (Mt 24:37-39).  
“Pois como foi dito nos dias de Noé, assim será também a vinda do Filho do homem. Até que veio o dilúvio, e os levou a todos; assim será também a vinda do Filho do homem”. 
O JUÍZO explicado relaciona-se à observância da vinda do Senhor:  
“vigiai pois não sabeis a hora da vinda do Senhor” (Mt 24:42,44), com recompensa (Mt 24.46) e juízo (Mt 24.51)
O contexto posterior imediato
O cap. 25 é composto, além da Parábola das dez virgens, por outras duas parábolas. Apesar de tratarem do mesmo tema – a vinda do Senhor, a recompensa pela fidelidade – há diferenças entre elas que são determinantes para o nosso entendimento.

Poderiam estas parábolas, para seu cumprimento, obedecerem ao programa de Deus obedecendo um critério cronológico presente em Mt 24? Primeiro a Parábolas das dez virgens e por fim o Julgamentos das Nações?

A Parábola dos talentos usa o termo homem e o coloca se ausentando depois voltando ao um país – um local definido aqui na terra (14). Já a parábola do julgamento das nações, usa o termo Filho do Homem – chamado de Rei (40) e coloca sua realização aqui sobre a terra (31).

No entanto, a Parábola das dez virgens, há o termo noivo sem definir um local aqui na terra onde ocorrerá, apenas diz que ele abriu e fechou a porta para as virgens entrarem.    

Isto garante que o teor da parábola das dez virgens preserva e se submete ao tema desenvolvido anteriormente: JUÍZO associado à observância da vinda do Senhor – mas não podemos garantir que sua consumação se dará aqui na terra.
A parábola das 10 virgens, desta forma, está inserida neste contexto de advertências associadas à imprevisibilidade da hora da vinda do Senhor – o segundo questionamento feito pelos discípulos. E temos tal confirmação em seu último verso em que reafirma a necessidade de vigiar ante a imprevisibilidade da hora da vinda do Senhor  (Mt 25.13).


A Parábola
Antecipando-nos à análise, encontramos seus personagens (Mt 25-2-4): dez virgens, noivo, anunciante – o que grita (v. 26), ainda azeite, lâmpadas e vasilhas e eventos. Como anteriomente dito, nem todos os termos citados pelo Senhor exigem siginificados que não sejam literais. 

Devemos iniciar a leitura sob a perspectiva: é uma parábola sobre premiaçaão e juízo associados à vinda do Senhor.

Então o reino dos céus será semelhante a dez virgens que, tomando as suas lâmpadas, saíram ao encontro do noivo. (Mt 25:1)

O Reino dos Céus
A parábola ensina sobre o reino dos céus utilizando-se de dez virgens. Logo, devemos conhecer o que o Senhor ensinou a esse respeito. 
1.   É um termo exclusivo de Mateus,
2.   A ideia é de uma ação soberana dos céus;
3.  Uma promessa relacionada a o Messias – anunciado por João (3.2) e confirmado pelo Senhor (4.17);
4.   Acessá-lo exigia mudanças interiores – arrependimento, obediência, justiça. (3.2; 4.17; 5.19; 7.21). Garantindo-lhe seu caráter transcendente;
5.   Sua consumação envolverá a celebração contará com os patriarcas judeus – Abraão, Isaque e Jacó. (8.11);
6.   Seus mistérios (13.11) fez com que muitas parábolas fossem utilizadas em seu ensino;
7.   Sua última citação ocorre aqui.
Associado a chegada do Messias para Israel. Anunciado por João, o batista, Confirmado pelo Senhor, conforme lemos em Mt 4.17. e que na parábola anuncia o seu cumprimento no futuro – o tempo do verbo será. Ou seja, ainda a ser consumado. 
Israel, a Igreja e o Noivo
Em nenhuma local das Escrituras há promessas em que a nacão Israel está a espera de um noivo. O grande anseio de Israel é a chegada do seu Rei.  Mas, as virgens saem ao encontro do noivo – notem que o texto NÃO diz que o noivo pertence às virgens. Tampouco, é utilizado o termo NOIVA. A Igreja não é convidada para bodas, pois a Igreja é a noiva!! Sem ela não há bodas!!! Logo, não há citação direta sobre a Igreja na parábola. 
Os dois grupos
As virgens – e não noivas, nem amigas da noiva- são identificadas como insensatas e prudentes (25.2). O único critério que identifica os grupos, as insensatas não levaram azeite (25.3); já as prudentes, junto com suas lâmpadas, levaram azeite em vasilhas. (25.4).
A espera (Mt 25:5-9)  
O comportamento dos grupos – para espera e encontro com o noivo é o mesmo, ambos dormiram, diante da “demora” do noivo (25.5). Sem que sejam condenadas por isso. 
Quando repentinamente – meia-noite – é anunciada a presença do noivo, surge a necessidade do azeite. O azeite para as lâmpadas é uma exigência para chegarem ao noivo. A despeito da mesma aparência, são virgens, do mesmo comportamento – esperaram e dormiram, surge a distinção: a provisão necessária para chegar ao noivo. 

Saí-lhe ao encontro (Mt 25.6)
Ao ser anunciado o Noivo é dito para as virgens sairem ao seu encontro. Sugere que as virgens estão em um local diferente do noivo, e elas que irão ao Noivo e não ele a elas.  
A importância do azeite
A recusa em compartilhá-lo, longe de parecer egoísmo das virgens prudentes, exibe o seu caráter de prontidão – vigiai! – em oposição às insensatas, pois, estas sabiam da sua existência – juntas preparam-se, juntas esperaram e juntas dormiram. O erro se deu por negligência, descaso – um erro de princípio ou preparo para consumar a jornada. (25.29).

O lapso de tempo entre a chegada das virgens prudentes e das insensatas deixa claro a importância da prontidão, pois, ao final ambas tinham o azeite!!! ambas chegaram ao noivo!!! Entretanto, em momentos diferentes.


O significado do azeite

Devemos evitar dar um “significado” para o azeite que não o seu significado literal – azeite. Ele está no texto como um combustível, nada mais que isso. 
Ao tentarmos “traduzi-lo” como Espírito Santo ou algum dom, esbarramos em dificuldades. Ele foi vendido, e após ser “comprado”, mostrou-se genuíno, pois permitiu o acesso ao noivo, contudo, foi desconsiderado pelo Senhor. Portanto, não faz sentido o azeite ser o Espírito de Deus. 
Entendo que o azeite é determinante para ensinar a diferença entre os grupos, mas não devemos “vê-lo” como o Espírito de Deus. Além do ensino não exigir tal interpretação, leva a erros doutrinários.
O ensino é sobre a necessidade de vigiar, e o azeite é o meio de manter a luz acesa – em um único e determinado perídodo – garantindo a chegada até o noivo. 
As prudentes
As virgens – como escrito anteriormente, não são a noiva, nem é dito que são suas amigas. No caso, parece-me que elas são esperadas, pois é o próprio noivo quem as recebe e fecha a porta após elas (25.10), dando-nos entender que elas eram necessárias ou esperadas nas bodas, mesmo que chegando já adiantada a festa.

As insensatas 
Após a providência do azeite, as insensatas conseguem chegar ao Senhor, fazem exigências para que a porta lhes seja aberta. E chamam o noivo de Senhor, em obediência tardia (25.11). É singular a receptividade a elas dispensada: não eram conhecidas pelo noivo (25.12), assim, não eram esperadas portanto, “permaneceram” fora das bodas.
O noivo e Senhor
Deve ser identificado com Jesus – pois, assim se chamou (Mt 9.15).
Quando ocorrerá e quem representam as virgens
O anuncio da hora que o noivo se apresenta para as virgens – meia-noite – dá entender que já estava adiantada a celebração das bodas.

Como vimos, não há indícios que os fatos descritos na parábola ocorrerão na terra, e em acordo com o pressuposto Pré-tribulacional e Pré-milernar, as bodas ocorrerão nos céus, após o arrebatamento e aantes da vinda do Rei.

Sabemos que o período anterior e posterior à saída da Igreja – o Arrebatamento – é um tempo de apostasia, em que uma multidão de crentes nominais – virgens insensatas – serão o “cristianismo”. 
As virgens prudentes, são judeus saídos desse cristianismo apóstata, sabem das bodas do Noivo e para Ele vão. 
Portanto, as virgens da parábola não representam a Igreja, tampouco, Israel. Pois, A Igreja já está nos céus e Israel ainda aguarda a vinda de seu Rei aqui na terra. 

Há outras possibilidades?
Claro que há, mas essa perspectiva deve ser considerada. E devemos fazê-lo agora, pois além de nos santificar, devemos saber que no céu não se permitirão profecias.
Que o Santo seja bondoso conosco.

A Ele toda a honra.

A Esperança


e estai sempre preparados para responder com mansidão e temor a todo aquele que vos pedir a razão da esperança que há em vós; (1 Pe 3:15)
É perceptível a pouca importância dada ao sentido das palavras. A própria linguagem, tão poderosa, está sendo reduzida, tornando-se incapaz de oferecer o real sentido aos objetos, aos sentimentos, ao mundo. E isso afeta profundamente a vida e tudo que ela representa, pois, a falência dos significados é a falência da própria vida. 

As pessoas cada vez menos desejam entender o que cada palavra propõe, e equivocadas em seus desejos, dão seu próprio significado a vida. O caos as espreita. 
Essa autonomia permitiu a perda do significado de verdades fundamentais da vida… o que faz com que ela, banalizada, lentamente, perca seu sentido. Vive-se sob uma realidade líquida e sem forma onde cabem todas as “verdades” – um “tempo de coisa nenhuma em direção ao nada”. (1 Co 1.20, 27)
O pensar passou a ser determinado pelo lazer de um lado e a aversão do outro, nada além disso. O agradável é aceito como verdadeiro, aquilo que questiona o prazer é rejeitado, tornando-se mentira. Nenhuma reflexão fora desta dinâmica orienta ou faz sentido. 

Os pensadores falam a respeito dela apenas por meio de divagações vazias e superficiais – apenas pão e circo. Com isso, perdem-se os significados: da beleza, do amor e, principalmente, da esperança – deixando-a longe da Esperança de “outrora”. (Gl 5.8)
A ideia de que não vale a pena pensar, não vale a pena rever os fundamentos da vida, destruiu a possibilidade de saber da Esperança. (1 Tm 6.17)

É oportuno resgatar seu significado, seus valores e propósitos pela importância da Esperança na vida. Desafiando àqueles que, em seu estado de prazer, precisam acolher a verdade da Esperança. (Rm 5.5)
O que é Esperança? 
A Esperança e sua importância prática  
Pode-se afirmar que a esperança é o guia da vida. Tudo que pensamos, fazemos, falamos e somos expressam-na, e por ela são determinados. Ela permeia todo nosso ser, queiramos ou não. 
A cosmovisão de cada um depende e reflete sua esperança. Quanto mais sólida a esperança, mais pacífica e ordeira a vida passa a ser. Toda a crise experimentada – crimes, adultério, corrupção, desordem, drogas, infelicidade – decorre, em grande parte, da relação do indivíduo com sua esperança – ou com a falta dela.Assim, ela determina o presente. (Rm 12.12)
A Esperança e sua relação com o futuro 
Ela, obrigatoriamente, está localizada em um ponto futuro e a ele nos une. A certeza de seu cumprimento é indiscutível, influencia o pensamento e garante a conduta. Ela é a certeza do futuro, logo não dependerá daquele que espera. Caso dependesse, não seria Esperança, mas, apenas espera – ocorrendo no tempo daquele que espera. A esperança depende de alguém fora e acima daquele que espera. Aquele que tem poder sobre todas as variáveis e até sobre o tempo, de forma que seja capaz de consumá-la. (Cl 1.15)
A Esperança e sua natureza
Aqui temos uma luta conceitual afim de diferenciar o que é Esperança e o que é conquista. 
A conquista depende do mérito, e a este premia – a dívida que o mérito exige. Não se pode relacionar esperança ao mérito pessoal, definitivamente isso não é esperança, isso é conquista. Nem tudo aquilo que esperamos é esperança. Se há mérito envolvido não é esperança, mas a justa espera da retribuição. 
Já, a Esperança não depende do mérito daquele que espera, ela decorre da bondade dAquele que a consumará. Não está premida pela dívida, mas sim pelo amor. (Gl 5.5)

A Esperança e o seu objeto
Este ponto contribui para esclarecer o anterior: a Esperança, obrigatoriamente, une-nos ao que é impossível a ser obtido pelo mérito. A Esperança sempre estará fora da capacidade de conquista do homem. Tudo aquilo que podemos fazer, obter ou construir não pertence à Esperança. O objeto da esperança é o impossível de ser conquistado (Cl 1.5,27). 
A Esperança deve ser concebida, primariamente, pela compreensão dAquele que prometeu (Rm 5.5) e de seu objeto “não esperável”. Assim, estamos falando do relacionamento com o “não esperável” – fora do universo de conquistas humanas (Tt 1.2).
A Esperança e seus valores
Resta-nos reconhecer que é necessário trazer “o não esperável” para dentro de nosso mundo, para nossa realidade. É necessário definir o arranjo conceitual e nele inseri-la.
Como conceito, é percebida pela fé, molda a conduta e exige o conhecimento de seu objeto e de seu autor. Contudo, depende apenas, para sua consumação, de seu Autor. (1 Tm 4.10; 6.17)
Sim, é preciso acreditar em tudo que se encontra nos “arredores da esperança”. Mas, a fé deve ser entendida dentro de sua real eficácia: um sinal interior que nutrirá o que espera com a certeza de sua consumação. Contudo, devemos afirmar que a fé não é a Esperança, nem a garantia de sua realização.
CONDUTA.
É um sinal exterior que a esperança exige. A disposição interior que é capaz de orientar as escolhas, que evidencia a certeza que a Esperança se consumará – “aquele glorioso dia”. Mas, o comportamento identifica a Esperança, mas não é a esperança, nem a garantia de sua consumação.
AUTOR.
Sim, é preciso que aquele que prometeu seja suficientemente poderoso para GARANTIR que todas as coisas relacionadas à esperança se consumarão. 
É necessário um real relacionamento entre aquele que espera e o autor da Esperança.
Saber de seu poder, seu amor e cuidado, pois só assim saberá de sua capacidade em cumprir todas as promessas – Esperança.
Como resultado haverá paz naquele que espera, pois, sabedor que nenhum mérito ou poder seu será exigido, mas apenas o poder dAquele que, em amor, prometeu, pois é fiel e não negará a Si. (Rm 15.3)
Sim, há uma única Esperança (Ef 4.4)- a eternidade com o Senhor, um único fundamento – Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. 
Bendito seja o Senhor Deus, Pai de nosso Deus e Salvador e seu Espírito que mantém viva nossa esperança. 
A Ele toda a honra e glória pelos séculos. 

Amém.