Aos meus irmãos – A perda irreparável
Ela – a morte – desrespeita a esperança, e em sua crueldade encrava farpas profundas na alma. Não nos permite o simplismo, e para este drama, se o somos, tratamo-la de forma infantil e insensível.
Não podemos negar, a realidade se impõe (ou imporá) sobre nossa ignorância, conceito e solução. Não seremos tomados por inocentes nesta trama misteriosa, nem nossas conveniências anularão o que se apresenta frente a nós.
Que vida é esta que temos?
Manaus, 28,novembro,2010
Havia mulheres que seguiam a Jesus, e após vê-lo no túmulo, Lucas registra (23.56): “Então voltaram e prepararam especiarias e unguentos. E no sábado repousaram, conforme o mandamento.”
Vidas lançadas fora, desperdiçadas, frustraram-se os planos, sucumbiu a esperança… a morte, mais uma vez, triunfara.
A vida sobrepujou a morte!
“sabendo que, tendo Cristo ressurgido dentre os mortos, já não morre mais; a morte não mais tem domínio sobre ele.” (Rm 6:9)
Morreu o Senhor
Nas santas palavras do Senhor aprendemos o amor, a retidão e a justiça. Mas, na cruz a dor, profunda dor.
O profeta Isaías afirma que Ele não cometeu injustiça, nem houve dolo de sua boca (53.9). Andamos pela vereda do justo que está clareando mais e mais.
Está consumado, e rendeu o espírito: O meu Deus se deu à morte. Nada, nem ninguém, poderia tirar a vida do Eterno.
Arrependamo-nos, choremos, ergamos aos céus nossos pedidos de misericórdia, pois é grande o nosso pecado. A vida de Deus em lugar de nossas transgressões.
Está consumado, nada há para ser feito.
Rejubilam os céus, e salmodiem povos, pois o nosso Deus assim o quis.
Escatologia Individual – Esboço
Mogi das Cruzes, setembro,2010
Escatologia Individual
A MORTE
Compreendê-la, pois, é de vital importância dentro do propósito da Escatologia individual. Devemos, primeiramente, identificá-la, quanto possível por sua dimensão:
(1) a dimensão física ou natural que todos podem observá-la;
(2) a dimensão espiritual onde, pela Revelação e a experiência dos santos na regeneração, pode-se efetivamente compreendê-la.
O texto de 1 Tm 5:6:
“entretanto, a que se entrega aos prazeres, mesmo viva, está morta.”
“mas da árvore do conhecimento do bem e do mal, dessa não comerás; porque no dia em que dela comeres, certamente morrerás”.
“E havendo lançado fora o homem, pôs ao oriente do jardim do Éden os querubins, e uma espada flamejante que se volvia por todos os lados, para guardar o caminho da árvore da vida”.
Depreende-se que a partir desse momento o homem ficou privado da árvore da vida, uma dimensão da morte aqui nos é revelada.
“Todos os dias que Adão viveu foram novecentos e trinta anos; e morreu.”
Ao segundo, chamamos de morte natural ou física, ocorre quando quebra da unidade constitucional do homem, a saber, parte material e parte imaterial da criatura. Morte essa que Adão experimentou mediatamente após novecentos e trinta anos de vida, o que nos obriga afirmar a dimensão da vida física ou natural. Em relação à morte natural, Salomão retratou-a no livro de Eclesiastes, com a visível separação do corpo (pó, referenciando-se à origem do corpo) e do espírito.
“e o pó volte à terra, como o era, e o espírito volte a Deus, que o deu”. (Ec 12:7)
Nossa existência é uma herança passada de geração a geração desde de Adão, portanto herdamos de nossos pais as duas dimensões da existência – natural e espiritual. Nascemos, estamos vivos na dimensão natural, mas mortos, na dimensão espiritual, o que está de acordo com o texto inicial, e ainda com:
“Ora, o homem natural não aceita as coisas do Espírito de Deus, porque para ele são loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente”.(1Co 2:14)
Assim, a morte espiritual é evidenciada pela rejeição das verdades bíblicas, em virtude da incapacidade natural do homem em discerni-las. Logo mesmo viva (natural) está morta espiritual. Esta condição é também conhecida como Depravação Total. Sendo comum a todos descendentes de Adão, conforme Rm 5:18, que diz:
“Portanto, assim como por uma só ofensa veio o juízo sobre todos os homens para condenação, assim também por um só ato de justiça veio a graça sobre todos os homens para justificação e vida.”
Observe o contraste entre “juízo para condenação” e “graça para justificação e vida”. Podemos concluir que a morte espiritual é ausência de relacionamento com Deus, que toda a humanidade herda por natureza.
O restabelecimento da vida é feito por um ato exclusivo, livre e soberano de Deus que é a Regeneração (União com Cristo), que como consequência produzirá a fé.
Portanto, vida e morte NÃO devem ser entendidas como EXISTÊNCIA e NÃO-EXISTÊNCIA, mas sim, como união ou separação de Deus, ambas com existência, ou seja, com consciência. A vida é a existência em unidade com Deus, portanto morte é a existência separada de Deus. Compartilha desta posição Erickson :
“A morte e a vida, de acordo com as Escrituras, não devem ser entendidos como existência e não-existência, mas como dois estados de existência; não é como costumamos imaginar, extinção.”[1]
O ESTADO INTERMEDIÁRIO
temos dificuldades nesta doutrina, a primeira é a escassez de material escriturístico para sua plena sistematização. A segunda, é a perspectiva da Teologia Liberal que influenciou todas as gerações a partir da segunda metade do século XIX, que apontava contrariamente à ressurreição física, contudo afirmava a imortalidade da alma. Doutro lado a Neo-ortodoxia veio com um conceito de ressurreição necessária, que apregoava que a existência humana exige corporalidade, o que implicava na não existência da alma separada do corpo.
O Liberalismo, com sua NÃO RESSURREIÇÃO, e a Neo-ortodoxia com a IMPOSSIBILIDADE DA EXISTÊNCIA REAL FORA DO CORPO são os dois falsos conceitos que contribuem negativamente para a aceitação desta doutrina.
Devemos tomar como ponto de partida uma verdade das Escrituras: Há um estado intermediário e que ele é inadequado ou transitório, mas real. Pois o apóstolo expectava por um revestimento, onde é clara a alusão ao corpo ressurrecto.
“E, por isso, neste tabernáculo, gememos, aspirando por sermos revestidos da nossa habitação celestial; ..[..].. , para que o mortal seja absorvido pela vida”. (2 Co 5:2-4)
“Aconteceu morrer o mendigo ..[..].. morreu também o rico e foi sepultado ..[..]… estando em tormentos, levantou os olhos e viu ao longe a Abraão e Lázaro no seu seio. Então, clamando, disse: Pai Abraão, tem misericórdia de mim! E manda a Lázaro que molhe em água a ponta do dedo e me refresque a língua, porque estou atormentado nesta chama”.
Vemos que ambos, Abraão, o rico e Lázaro, passaram pela morte, porém se encontram em situações totalmente diferentes. O rico demonstra consciência mesmo pós a morte: Reconhece Abraão, expressa seu tormento, suplica por algo que amenizasse sua dor e sabe quem é Lázaro e de que ele seria capaz de fazer. Esta passagem permite afirmar da existência de vida consciente após a morte. Podemos inferir que a condição do rico, pelo menos, era de desencarnado.
“..[..].. morreu também o rico e foi sepultado”.(v. 22)
Concluímos que o estado Intermediário, ou seja o intervalo de tempo entre a morte e a ressurreição é caracterizada por vida consciente. E pessoas que neste estado se encontram gozam do consolo e a expectação da ressurreição, enquanto outros se encontram em tormentos. Erickson diz :
“Entre a morte e a ressurreição, há um estado intermediário em que crentes e incrédulos experimentam, respectivamente a presença e a ausência de Deus.” [2]
[1] M. ERICKSON, Introdução à Teologia Sistemática, p. 484.
[2] M. ERICKSON, Introdução à Teologia Sistemática, p. 493.
A quem procurais?
Pois quem é Deus, senão o Senhor?
A horrenda proposta da apostasia
“Horrenda coisa é cair nas mãos do Deus vivo.” (Hebreus 10 : 31)
O Cristianismo Bíblico, sempre existiu por haver um relacionamento real com Deus. O Deus pessoal, Triuno, eterno, criador de todas as coisas comunicou-Se com suas criaturas, revelando-Se, isto é a base de toda fé cristã. A Palavra do Senhor, e somente ela, regulamenta este relacionamento
Pobres apóstatas, pobre humanidade.
“Minha é a vingança e a recompensa, ao tempo que resvalar o seu pé; porque o dia da sua ruína está próximo, e as coisas que lhes hão de suceder, se apressam a chegar.” (Deuteronômio 32 : 35)
Bendito seja nosso Deus.
A Ele honra, glória e louvor de eternidade a eternidade.
A morte da vida na morte de Deus
O Cristianismo Bíblico, sempre existiu por haver um relacionamento real com Deus. O Deus pessoal, eterno, criador de todas as coisas comunicou-se com suas criaturas, revelando-Se.
Toda esta realidade foi perdida, abandonada, caiu em mãos aflitas, em mentes perturbadas do homem moderno. Proclamaram a inexistência do Senhor – sua morte -, assumiram o controle sobe a vida e a morte, e o Cristiansimo saiu das Escrituras e passou a ser meramente uma religião.
Há algo novo em seu lugar. Arrancaram suas entranhas, remontaram seus princípios, sua etimologia, suas particularidades e natureza. Iniciando uma trilha descendente e sem retorno. Pobre humanidade.
Mesmo que o homem comum de nossos dias não questione seu real significado e propósito, ele apropriou desse fenômeno meramente social e psicológico, chamou-o de religião. Contando com um cenário imediatista, sem capacidade crítica – disposição mental -, essa transgressão conceitual e prática passou a ser a verdade. O Cristianismo perdeu sua razão, e vive hoje embalado pelos braços dos valores e regras da Psicologia e outras ciências Sociais.
Em religião tudo é possível, dizem.
A religião é mais uma forma de satisfazer-se. O propósito religioso está circunscrito aos ideiais humanos. A verdade, que outrora engrandecia ao Senhor, transformou-se em mantras do absurdo para conquistas e engrandecimento das criaturas. O homem vive sobre um deus ninguém. Os resultados são perceptíveis, estão por todos os lados:
A morte da esperança. A esperança foi banida do coração, consequentemente a vida perdeu seu valor.
Reféns da morte
A realidade nos insinua advertências que, pelos nossos propósitos e ambições, temos demonstrado não atentar para elas. Esta não-percepção dos valores que nos circundam mostra, de um lado, que somos soberbos, por fazermos uma avaliação inadequada de quem somos, por outro, ignorantes, por desprezarmos tais ensinos. Esta dupla característica, falsamente, nos sugere fortes, senhores, quase eternos.
Desprezamos o ensino do nosso dia-a-dia: a presença constante das separações, das perdas. A cada escolha feita separamo-nos de outras possibilidades, abrimos mão daquilo que julgamos desnecessário, sem importância.
De onde brota tal descaso? Do engano que alvoroça nossos corações? da falta de humildade que conduz nossa sabedoria?
A vida, em sua particularidade e singeleza, tem nos mostrado ser um processo constante de escolhas e predas. O inexorável se agiganta diante de todos nós: Um dia todos nós nos despediremos uns dos outros. Simplesmente, perderemos nossos pais, nossos amigos, nossos irmãos, até nossos filhos, perderemos tudo aquilo que pulsa junto com a nossa vida, que nos faz sorrir, que nos dá prazer, e por fim, perderemos a própria vida. Seremos lançados à eternidade, e de lá nada mais poderemos recuperar.
A negar tais argumentos, é mais uma vez oferecer “a ilusão” como norma da razão, e se separar, em definitivo, da possibilidade de compreender a realidade humana. Os sofismas da religião meramente humana – reencarnação, purgatório, obras, filantropias etc. – tentam obscurecer o pragmatismo da morte. Esta realidade considerada em sua força e imprevisibilidade compromete a fortaleza humana, revestindo a todos da finitude tão indesejada, da fugacidade tão desdita. É, sem dúvida, o maior confronto oferecido pela vida. Mas a eternidade se avizinha, e com ela a separação. A noite comunica ao dia para que mantenhamos a prontidão.
Há alguma escolha a ser feita que nos permita fugir deste roteiro tão perverso? Podemos estar eternamente junto às pessoas que amamos? Nenhuma religião afirmará com segurança que sim.
Em Cristo Jesus, o Senhor de todo o universo, o autor e mantenedor da vida, Nele podemos dizer que sim. Entrega teu caminho ao Senhor, confia nele e que as demais coisas Ele fará.É Ele, e ninguém mais, que dá tal confiança: “a morte não tem poder sobre os que crêem”.
Bendito seja Nosso Deus e Salvador.
A Ele honra, glória e louvor de eternidade a eternidade
Natal de 2003.