Um leitor das Escrituras perceberá a semelhança que há entre os passos dados e a disposição mental que guiou Judas, aquele que traiu o Senhor, e a vida dos líderes apóstatas – os papistas, fabios, malafaias, renês, jabes, santiagos, valnices, brants, macedos, soares, rodovalhos, valadãos e muitos outros.
Recorro a apenas alguns textos das Escrituras para encontrar a descrição, quase sumária, dos caminhos e privilégios experimentados por Judas, aquele que traiu o Senhor, e compará-los aos senhores da apostasia.
Mateus, assim inicia o cap. 10:
“E, chamando os seus doze discípulos, deu-lhes poder sobre os espíritos imundos, para os expulsarem, e para curarem toda a enfermidade e todo o mal.” (v.1)
Percebe-se, da parte do Senhor, dedicada honraria para com os doze, e mais: “seus doze”. Judas, pertence ao Senhor e com benignidade foi chamado para desfrutar da intimidade do Altíssimo.
Já no v. 4, ao se referir a Judas diz assim: “e Judas Iscariotes, aquele que o traiu”. A marca de seu relacionamento com Cristo, um aposto, a repercutir por toda a eternidade: “Aquele que traiu o Senhor”.
Como poderia em um intervalo tão pequeno nas Escrituras chegar-se a uma posição tão distante que começara pelo Senhor?
A honraria pessoal do Apostolado estava completamente acima da santidade exigida. Estar com o Senhor sem obter vantagens pessoais representava pouco para aquele que traiu o Senhor. Como os apóstatas não há dignidade do ministério da Palavra, desejam apenas os ganhos e a exaltação pessoal. Ignoram a Palavra do Senhor que os adverte: “homens corruptos de entendimento, e privados da verdade, cuidando que a piedade seja causa de ganho” (1 Tm 6.5).
Quantas horas e quantas palavras foram dedicadas pelo Senhor para instruir e advertir àqueles homens que o acompanhavam. E Judas, aquele que traiu o Senhor, estava junto a eles e a tudo ouvia.
Ouviu o Senhor explicar-lhes as parábolas: “Falo assim para que os de fora mesmo vendo, não percebam; ouvindo, não entendam e assim não se convertam”. Não compreender as palavras do Senhor não lhe causava aflição, pois sua soberba e ganância o poupavam da gravidade do fato.
“Os de fora mesmo vendo, não percebem, mesmo ouvindo, não entendam e assim não se convertam”. Não ver, não entender e não se converter não causam nenhum temor ou tremor a esses homens!
Os discursos de amor sobre a Parábola do Semeador, sobre o risco da fascinação das riquezas, a implicação tão clara que por ela viria o abandono ao Senhor. Quão próximo esteve Judas dessas verdades! Mas, como anelava a fascinação das riquezas! As glórias do mundo!
O relato da tentação do Senhor, não fazia com que seu coração tremesse?
Multidões já percorreram o caminho de Judas e muitos sorriem e confortáveis com as vantagens oferecidas no deserto da Judeia.
Presenciar a multiplicação dos peixes, a maravilha da multidão faminta fartar-se, e ainda sobejar. Na visão de Judas tais coisas desvaneciam, não lhe traziam vantagens permanentes. Poderia contemplar a multiplicação de peixes sob a ótica do sermão do monte e compreender a verdadeira sede de justiça. Quanta incapacidade, quanta desesperança havia em Judas, quão perto esteve!
Quanta sede de fartura pessoal, busca por honrarias de homens, são os Judas de nossos dias! Aqueles mesmos sentimentos desfilam diante de nós em outras faces, mas nos mesmos corações e mentes.
“Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque eles serão fartos;” (Mt 5:6). Quanta ansiedade pelos prazeres transitórios do pecado, para abrir mão das promessas de Deus!
O Senhor o ensinou: “Judas, se fores rejeitado por falares a verdade, adverte-os sobre o juízo, diz-lhes que haverá menor rigor para Sodoma e Gomorra”. Esta frase ainda hoje ecoa na mente, agora perturbada e desesperada do traidor do Senhor.
Quais as palavras que perturbarão por toda a eternidade esses homens da apostasia?
Judas, aquele que traiu o Senhor, era responsável pelas economias do dono de todo universo; comprava as provisões, assistia aos pobres em nome de Jesus. Em sua mente doentia, não havia nisto glória alguma. Compartilhar com o Senhor a riqueza que a Ele pertence, não atendia aos interesses de Judas, nem desses homens. Assim, como Judas, a ambição desses não tem limites. De que vale o homem ganhar o mundo inteiro e perder sua alma? É preciso rasgar a Palavra… e aí vão eles.
Quando Maria de Betânia lançou-se aos pés de Jesus, Judas, por não suportar o testemunho de santidade e submissão aos desígnios de Deus, empreende seu golpe final. A incapacidade de compreender os valores espirituais da vida com Cristo é determinante para sua decisão. A frase do Senhor, reprovando-o: “Deixai-a, não a molesteis. Ela fez boa obra, e isso lhe será creditado a ela por toda eternidade”. Confirmou em seu coração a impossibilidade de viver sob a palavra de Cristo. Mal sabia Judas que outra eternidade estava-lhe reservada.
O conflito da vida dúbia, o conflito entre a verdade própria e a Palavra do Senhor estava resolvido. Naquele momento Judas, o traidor, afastou-se, seguiu seu caminho apóstata. Atendeu seu coração, saiu para fazer comércio, para vender o Senhor, alegrar-se com ímpios (Mc 14.10-11). A leveza de seu coração revelou toda a impiedade e determinação de fazer sua própria história. Assim começou a vida desses homens da apostasia: incapacidade de aceitar as boas obras, e não se submeterem às exortações da palavra de Nosso Deus. Cristo transformou-se apenas no meio para se chegar a trinta moedas de prata.
Iniciou-se um novo momento, uma nova liberdade, novo propósito. Livre das palavras do Senhor, mas usando-O, suas ambições, seus projetos de reconhecimento, de honrarias seculares, isso sim, fazia-lhe sentido.
Deixou para trás a honraria da santidade, os ensinos, a esperança Cristo. Definitivamente rompeu com a Palavra de Cristo, seguiu seus ideais, seu coração.
E, finalmente, João relata (cap. 13):
“E, após o bocado, entrou nele Satanás. Disse, pois, Jesus: O que fazes, faze-o depressa”.
O Senhor o deixou sob o desígnio do próprio coração, sob o espírito que atua nos filhos da desobediência. No verso 30, Judas, ainda se aproveita dos seus últimos momentos junto com o Senhor para satisfazer sua carne, “assim que comeu seu bocado e saiu”. E encerra o texto dizendo: Era noite.
Olho em minha volta e vejo aquele que traiu nosso Deus em canais de Tv, nos escândalos, nas propinas e orações, nas vergonhas.
Mateus descreve o prólogo da morte: Judas reconhece seu erro, chora, mas era tarde demais. Lemos no Livro de Atos que aquele que traiu o Senhor foi para seu próprio lugar.
Pergunto: Haverá tempo para arrependimento? Clamar ao Senhor e reconhecer o mal que fazem? Pedir perdão pela multidão de miseráveis que mandam para trevas?
Que aposto esses homens terão por toda eternidade? Os fiéis de Judas? Aquele que traiu o Senhor.
Que Deus tenha misericórdia dessas almas.
Só tu és Deus. A tua bondade e misericórdia duram para sempre, e por causa delas não somos consumidos, Senhor.
A Ele honra, louvor e glória de eternidade a eternidade.