Suicídio.
É possível afirmar o destino de um suicida? É possível ao crente dar fim a sua própria vida? Ou crentes não se matam? Está posta a questão.
Devemos entender a tese, pois apenas assim não nos desviaremos para outras questões, mantendo-nos, de fato, naquilo que nos interessa.
Não está em questão se o crente é autorizado por Deus para tal, pois sabemos que não. Tampouco, se o suicídio, ou qualquer outro pecado, é um comportamento esperado entre os santos do Senhor. Tais questões não devem ser objeto de discussão. Logo, não se trata desta questão, mas sobre os limites de nossa competência para julgar o fato, determinando o relacionamento daquele que tirou a própria vida e Deus.
E a pergunta a ser feita é, o diz a revelação do Senhor, a respeito do destino eterno daquele que tirou sua própria vida?
Quem somos.
A questão faz parte da aplicação da justiça de Deus. Devemos pois, saber até que ponto estamos autorizados e qualificados para aplicá-la em Seu nome? (Mateus 18.18, Romanos 6.13; 12.1-2; Primeira Coríntios 5.12-13; 6.3).
- Nossa comissão. Fomos comissionados para conduzirmos nossas vidas em santidade, lutando contra o pecado. (Levítico. 20.7, Primeira Coríntios 4.9-16, Primeira Pedro 1.15)
- Nossa limitação – percepção . Somos limitados em nossos sentimentos e percepções. Isso nos impede avaliar as motivações que produzem os fatos. P. ex. não disciplinamos pessoas por suas motivações, mas por seus atos consumados – o factual, possível de aferir. (Primeira Coríntios 5.12-13, Apocalipse. 22.6)
- Nossa limitação – conduta. Mesmo que o Senhor nos garanta o livramento (Primeira Coríntios 10.13), sucumbimos. Sucumbiram grande homens (Gálatas 2.11). As Igrejas de Apocalipse são exortadas sobre seus pecados (2.4, 2.16, 2.20, 3.2). Ainda que revele ingratidão e fraqueza, mesmo remidos, somos pecadores.
Portanto, nos compete a observação dos frutos (Mateus 7.16-20), contudo, devemos reconhecer que não temos a competência para estabelecer o futuro das pessoas – quem estará no céu ou não. (Daniel 12.9; Mateus 20.23). Doutro modo usurparíamos prerrogativas divinas.
Se isso posto é verdadeiro, somos capazes e advertidos a considerar os fatos, e não as “motivações”. Em nossa percepção, somos incapazes de esquadrinhar todas as dimensões que envolvem a vida que nos cerca. Desconhecemos toda a extensão do efetivo relacionamento de uma pessoa com Deus.
O suicídio é pecado.
De fato, é condenável atentar contra a própria vida, mas Deus NÃO nos conferiu a capacidade para afiançar a respeito das consequências eternas deste ato. Pois, os valores que levam as pessoas às decisões encontram-se fora de nossa percepção.
Podemos afirmar que tirar a vida de forma premeditada, no caso o suicídio, é pecado. Logo, não é o que se espera de um crente – como nenhum outro pecado!
Mesmo que envolto em dificuldades para serem definidas suas causas, tal decisão não decorre da falta de conteúdo das Escrituras, tampouco de uma falha em Deus. Não somos capazes de afirmar o que leva uma pessoa a cometer tal ato, exceto pela falta de confiança nas promessas do Senhor.
Entretanto, é preciso reconhecer que todos morreremos em pecado. A Escritura alerta para nulidade de nossa justiça (Is 64.6); a oferta permanente de perdão implica em nossa fragilidade diante da natureza do pecado, com a que ainda lutamos (Primeira João 1.10). Ninguém nesta carne está fora da ação do pecado, para isso a Glorificação (Primeira Coríntios 15.50, Gálatas 5.17). A santidade exigida deve tomar como base a santidade revelada do Senhor (Habacuque 1.13).
Seja atentando contra a vida, seja atentando contra o caráter de Deus, pecamos, e assim morreremos. São suas infinitas misericórdias que nos garantem o lar celestial. (Lamentações 3.22).
A lição de Sansão.
É recorrente a questão suscitar a experiência de suicídio de homens que foram usados por Deus. As posições divergem se Sansão e Saul podem contribuir para questão. Quanto a Sansão, a despeito de várias questões, prestou grande serviço ao Senhor, a ponto de estar arrolado na galeria dos homens fiéis. (Hebreus 11). O que deve nos levar a reconhecer que existem mistérios, além de nossa compreensão, quando da aplicação da justiça de Deus aos pecadores. Pessoalmente, entendo que a análise desses episódios pouco contribuem para solução, pois, pertencem a um tempo que exige prudência quanto às suas conclusões, o que ainda, recomenda o Princípio do Distanciamento.
O que de lá podemos afirmar é que temos um Deus misericordioso, e que seus feitos não se podem esquadrinhar completamente. (Salmo 145.3, 139.6,17, Romanos 11.33)
O sangue da expiação.
Outra questão a ser superada, é a discussão sobre o poder e extensão do sangue do Senhor, pois são declarações já estabelecidas, que para nossa discussão não cabem reconsiderações. Pois, de fato, as Escrituras são fartas em afirmar que sua expiação é perfeita e completa, e que se APLICA somente aos eleitos. (Romanos 8.29-30; Primeira João 1.7).
A suficiência das Escrituras.
Devemos recorrer às Escrituras por sua suficiência, e autoridade, assim obteremos as advertências de Deus contra o pecado. (Segunda Timóteo 3.16-17). Nenhum outro instrumento é normativo, inclusive as demais sugestões e experiências virão contaminados por nós mesmos (Provérbios 3.5). E guardando prudência para não ultrapassarmos os marcos estabelecidos pelo Senhor. (Deuteronômio 29.29).
A busca por recomendações específicas que considerem o “suicídio ou o espírito suicida” deve ser realizada.
Os textos a seguir advertem contra a prática de pecados, qualificando-os. O critério adotado para seleção relacionou-os à restrição de acesso ao reino de Deus, a impiedade ou juízo. Ou seja, qualificadores de condenação.
Apocalipse 22.15.
· Cães, feiticeiros, fornicadores, homicidas e idólatras e mentirosos.
Apocalipse 21.8.
· Covardes (tímido, medroso, acanhado), incrédulos, abomináveis, homicidas, fornicadores, feiticeiros, idólatras, mentirosos.
Primeira Pedro 4:3.
· Dissoluções, concupiscências, borrachices, glutonarias, bebedices e abomináveis idolatrias.
Primeira Timóteo 1.9-10.
· Injustos, obstinados, ímpios, pecadores, profanos, ira religiosos, parricidas, matricidas, homicidas, fornicadores, sodomitas, roubadores de homens, mentirosos, perjuros, contra a doutrina.
Colossenses 3:5.
· Inclinações carnais: a prostituição, a impureza, a paixão, a vil concupiscência, e a avareza, que é idolatria.
Efésios 5:5.
· Devasso, ou impuro, ou avarento, o qual é idólatra.
Primeira Coríntios 6.9.
· Injustos, fornicadores, idólatras, adúlteros, efeminados, sodomitas, ladrões, avarentos, bêbados, maldizentes, roubadores.
Primeira Coríntios 5.11.
· Fornicador, avarento, idólatra, maldizente, beberrão, roubador.
Temos ainda as Obras da carne. Em Gálatas capítulo 5.
· Prostituição, impureza, lascívia, Idolatria, feitiçarias, inimizades, porfias, emulações, iras, pelejas, dissensões, heresias, Invejas, homicídios, bebedices, glutonarias, e coisas semelhantes a estas.
A despeito de reconhecer que o elenco de pecados apresentado não é exaustivo, contudo, podemos afirmá-lo como significativo. São estes que Deus nos forneceu para observarmos em nossa vida pessoal, na condução da Igreja e na avaliação de mundo. E a Escritura dispôs daquilo que o Senhor considera suficiente para nossas vidas.
Os textos alistados, inclusive com a descrição das obras da carne, representam várias categorias de prazer ilícito, de pecados. Traz em particular pecados contra a vida: homicídio, matricídio, parricídio, contudo não traz qualquer citação direta a respeito de suicídio.
É possível, entretanto, alegar-se que o suicídio é consequência de algum desses pecados. Caso verdadeiro, é a prática desse pecado que devemos avaliar, e não o suicídio não listado pelo Senhor.
A Igreja de fracos e fortes.
Sabemos que há em nosso meio pessoas que não foram regeneradas. Mas, sabemos também, que entre regenerados há os fortes e fracos (Romanos 14.1; 15.1; Primeira Coríntios 4.10; Segunda Coríntios 13.9). No capítulo 8 de Primeira carta aos coríntios, o Senhor ao combater a soberba, nos alerta quanto a existência de irmão fraco. E por isso, devemos ter com eles especial atenção para não os levar ao desânimo, pois são “eleitos de Deus”. (Primeira Coríntios 8.11).
Aqueles irmãos que em nossa sabedoria afirmamos ser fracos, Deus os chama de amados.
As causas dos suicídios.
A lista a seguir de causas foi obtida de entidades não-Cristãs, inclusive a Organização Mundial de Saúde – OMS.
- Solidão, Depressão, Fim de relacionamentos, Dinheiro & profissão.
- Bullying, Transição adolescente para adulto, Perdas.
- Outras doenças, Homossexualismo.
As causas acima podem ser sumarizadas como conflitos em geral. Que se apresentam com tal poder que leva à pessoa atentar contra a própria vida. Seja uma dificuldade real ou somatizada, reflete incredulidade.
Conclusão
Concluímos que a plena aplicação da justiça de Deus é prerrogativa exclusivamente sua, privilegiando-nos para expressá-la em nossas vidas e aplicá-la apenas aos pecados perceptíveis e consumados. (Tiago 1.13-15).
E devemos reconhecer, que grande parte da vida de nossos irmãos, está oculta aos nossos olhos. Não sabemos dos efeitos promovidos pela leitura e ensino das Escrituras, tampouco penetramos no coração devocional dos santos do Senhor.
Além de que, estamos diante dos inescrutáveis planos de Deus, onde estão sua misericórdia, graça e justiça(Salmo 139.6), utilizando-os segundo seu santo querer. (Efésios 1.5).
Há em nosso meio fracos e fortes. Com comportamentos variados. Mas, tanto fortes, quanto fracos, morreremos todos em pecados, semelhantemente aos suicidas.
Podemos e devemos afirmar que o suicídio é pecado. Mas, qual o último clamor daquele suicida? Não o sabemos. De fato, não dispomos de critérios bíblicos para separar aquele que morreu endividado, daquele que morreu envolvido em mentiras, tampouco daquele pôs fim à própria vida.
“Se tu és o Cristo, salva-te a ti mesmo, e a nós”. Ou “Senhor, lembra-te de mim, quando entrares no teu reino”.(Lucas 23:39-43).
Foram as últimas palavras de dois homens. Apenas o Senhor poderia estabelecer seus destinos eternos.
Acredito não estarmos autorizados a substituir os “fatos da vida de uma pessoa”, afirmando “juízo” apenas sobre um único e intempestivo ato.
O dogma, neste caso, traz grande risco, por ultrapassar os marcos da revelação do Senhor.
Ao contemplar a grandeza do Senhor, o salmista reconheceu nossa pequenez. “Tal ciência é para mim maravilhosíssima. Tão alta, que não a posso atingir”. (Salmo 139:6).
Deus, tudo indica, reservou apenas para si a questão.
Ao único Deus sábio, Salvador nosso, seja glória e majestade, domínio e poder, agora, e para todo o sempre. Amém.(Judas 1:25).
É nossa oração.