Sociedade da Morte – Parte 1

O homem ao atribuir à sua percepção a única instância para validação da realidade e da verdade, concluiu que o que não é perceptível ou provável  não é real, não existe. Assim, criado um novo padrão de verdade, o homem passou a definir e ser o autor de toda a verdade. Uma grande obra em seu “benefício” foi iniciada. 

Sob tal perspectiva e sem dispor de outra possibilidade, o homem passou a ser senhor de todas as coisas. Passando a ser digno de todo o louvor e glória, e a vida ganhou traços bem definidos: a realização humana em si, por si e para si. (busca a qualquer preço da felicidade e do prazer). 

Nesse seu novo sistema de verdades não coube o que se entendia até então por esperança mas, agora, autor da verdade e senhor da criação, tudo poderia ser feito em seu benefício.

E na crueldade lógica da desesperança a vida sucumbe à morte. Pois, na falta de esperança a morte é senhora, portanto, ela e não a vida, passou a ser reguladora da existência do novo homem. Em contra partida, sua ilusão e euforia foram lançadas contra as paredes do mundo real, fazendo-o perceber face a face com um inimigo invencível: a morte.

Uma “nova vida” que sucumbe à morte, fez com que todo os planos, interesses e verdades passassem a ser circunscritos à morte. A desesperança assim o exige. 

Com a missão definida, percebeu que a extensão da vida – limitada pela morte – não garantiria seus ideiais de prazer e felicidade. Esse passou a ser o dilema da existência humana: Como encontrar a plena realização em um período de tempo tão exíguo?

Luziram no horizonte os raios que levariam a humanidade viver um novo momento em sua história. Deu-se início à “Sociedade da Morte”. Lembremos que são tempos de uma sociedade sem esperanças!
Ajustes eram necessários para atender a desesperança humana. Com propósitos tão claros de satisfação, o homem dependia apenas de si mesmo para realizar sua missão.
Para tanto, o homem lançou mão de seu “sonho de criador” (Gn 3.5) para estabelecer a nova ordem.  
Com a nova esperança refém da morte, foram erguidos novos pilares para construção de uma sociedade, capaz de suportar, suprir e nutrir a felicidade humana. A soberania da busca da felicidade e prazer suplantaram a razão.
A necessidade de realização – chegar à felicidade – exigiu, e ao mesmo tempo possibilitou, do homem desprender-se dos limites impostos pela razão (entenda isto como história, ética, moral etc.).
Nessa nova ordem, sendo o homem protagonista da história, seu querer é suficiente para lhe garantir e tornar lícito o usufruto daquilo que seus olhos veem, do que seu coração deseja e daquilo que aspira ser (Gn 3.6). 
Cada um, para “viver a vida”, ficou livre para construir sua própria realidade, sua verdade seus conceitos, sua moral, sua ética. Assim, a vida, sempre prestes a ser tragada pela morte, poderia ser explorada ao máximo.
A despeito de Deus considerar a morte um inimigo, e, em certa dimensão, ainda a ser vencido (1Co 15.26), o homem, investido de seu poder, antecipou a solução: a morte é apenas um evento natural e necessário à vida. A desesperança cunhou tal proposição, soou como verdade e a vida passou a ser meramente acidental, ou melhor, um descuido da morte.A verdade que a vida era subjugada aos limites da morte, impôs certo desespero branco à humanidade.  Já que, segundo o homem moderno, a morte é senhora da vida e nada há além dela, nem nada poderá mudar tal realidade. Tudo que restará é a convicção que a morte é fim de todas as coisas.  

De pronto, percebeu-se que o mundo real de então era incapaz de alimentar e satisfazer as demandas dessa “nova consciência”.
A garantia da felicidade passou a depender, de certa forma, de uma revolução semântica. Tudo precisou mudar, e o império da novidade impôs a reconceituação de todas as coisas, sob a égide de: o novo é certo, o velho é errado.
A mudança constante passou a ser forma e razão de viver. Não se achou lugar para os absolutos, para os permanentes. A velha vida, com seu prazo de validade expirado, foi banida na nova ordem. 

Um novo – e último – momento da glória humana passou a ser construído.

O acaso na soberania de Deus

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abendo, pois, Jesus tudo o que lhe havia de suceder, adiantou-se e perguntou-lhes: A quem buscais? (Jo 18:4)
Este texto ressalta e salta aos nossos olhos: “Sabendo, pois, Jesus tudo o que lhe havia de suceder”. Traz a clareza dos céus, simples assim, Nosso Senhor sabia o que lhe sobreviria, sempre o soube.
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omo podem a partir daqui ensinar algo que não chegue até o trono soberano do Deus Altíssimo? Como ousam alguns a colocar o próprio coração como guia das verdades eternas?
É mesmo assim, em sentido contrário ou texto, está o desafio do ensino das milhões de vozes mundo afora, vozes que são ouvidas. Elas forjam  texto dando-lhe um novo sentido, assaltam nossa consciência na busca de roubar Deus de Deus.  
Incluem a soberania do acaso em lugar do poder de Deus, tais tentativas de sedução tem logrado êxito, vejam a multidão que aceita tal infâmia e ainda sorri altiva.
É a oferta das glórias e reinos da terra, fazer do homem senhor, dar-lhe as rédeas do destino, de todo o universo, enquanto o Criador é feito refém dessas escolhas, isto é o que propõem.
Não nos deixemos seduzir por tais ensinos, são doutrinas das trevas, a obra mestra da sabedoria humana.Não nos deixemos enganar por essa falácia evangélica, pois nada mais é que a incredulidade ungida pela psicologia, filosofia e seus agregados naturais. Estão entorpecidos e rugem em nosso derredor para tragar corações altivos. Acautelem-se desses lobos, que perderam até a aparência de ovelhas.
Que o Senhor seja abundante em meio de nossa congregação, luz às nossas mentes e conforto aos nossos corações seja nossa oração.
Percorreremos as Sagradas Letras e mais uma vez não me furtarei de afirmar quem é nosso Deus.
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omecemos pelos momentos que antecederam o texto lido, iniciemos na última páscoa. “E achou Jesus um jumentinho e montou nele, CONFORME ESTÁ ESCRITO: Não temas, ó filha de Sião; eis que vem teu Rei, montado sobre o filho de uma jumenta”. (Jo 12:14)
É a chegada do Senhor em triunfo para ser aclamado Rei, conforme Zc 9.9. Estava ali um pequeno animal, nunca montado para servir ao Senhor em sua chegada a Jerusalém. Desceria entre hosanas e aleluias das multidões para que se cumprissem as Escrituras, caso não o fizessem as pedras o fariam (Lc 19.40), a Palavra do Senhor se cumpriria.
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emos mais, “Em verdade o Filho do homem vai, CONFORME ESTÁ ESCRITO a seu respeito; mas ai daquele por quem o Filho do homem é traído! bom seria para esse homem se não houvera nascido.” (Mt 26:24).
Deus nos deixou palavras para uso em seu sentido natural, comum, e devemos lê-las de acordo com essa graça. Vale ressaltar que nem a soberba punida em Babel revogou-a, pelo contrário multiplicou-a: a comunicação se dá pelo sentido natural das palavras. E isso se multiplica através das Escrituras, onde há poder e soberania: Jesus sabia tudo o que viria acontecer.
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rossigamos um pouco mais, leiamos a sentença do Mestre a Judas: “o que pretendes fazer, faze-o depressa” (Jo 13.27). Assim satanás e Judas em conluio, reproduzido nas ribaltas evangélicas de nossos dias, saíram para realizar livremente – o que “pretendiam fazer”  – a determinação do Senhor – “faze-o”. Como negar soberano poder sobre satanás, sobre Judas, sobre todos os eventos, tudo se ajustaria à sua caminhada rumo ao Calvário.
E em oração ao Pai: “nenhum deles se perdeu, senão o filho da perdição, para que se CUMPRISSE A ESCRITURA. (Jo 17:12).  Apenas os onze discípulos, ficariam com o Senhor, e outra vez lemos, ”para que se cumpra a Escritura”. 
Uma textura eterna de poder e honra é desenhada por estes dois textos: O cumprimento da Escritura, o mandamento do Senhor e a vontade escrava de Judas.
Somente a desonestidade intelectual ou incredulidade tentam diminuir as forças dessas evidências. Toda a realidade que percebemos e que não percebemos foi determinada conforme o conselho do Santo Deus  na eternidade passada.
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rossigamos, Marcos nos relata: “E eles, havendo cantado um hino, saíram para o Monte das Oliveiras”. Um pequeno coral entoa louvores, e caminha ao lado Deus de Israel, na verdade antecipam a morte do Senhor, que caminha sabendo TUDO O QUE LHE HAVIA DE SUCEDER. O Senhor tem contado todos os passos que dará… como ovelha muda perante seus tosquiadores segue rumo à cruz, em Isaías o Senhor determinou.
E mais, antes que chegasse o beijo da traição, antecipa a reação de todos seus discípulos: “Todos vós esta noite vos escandalizareis em Mim; PORQUE TEM SIDO ESCRITO: Ferirei o pastor, e as ovelhas serão dispersas”. (Mc 14.26-27).  
Com coração abatido, sabe que ouvirá de todos, “Ainda que seja necessário, morrerei por ti” (Mc 14.31). Há tristeza e pesar no semblante do Cristo de Deus, assim frente à criaturas tão pequenas e frágeis, que pensam em contribuir para o Mestre, manifestam, sim,  sua bravata contrária às Escrituras. Todos deixariam o Mestre só – igual faríamos caso lá estivéssemos.
A promessa de fidelidade eterna é declarada ao Senhor, que sabe resistiria apenas alguns minutos, CONFORME ESTAVA ESCRITO.
Pergunto: O Senhor construiu esse cenário, ou apenas se aproveitou da crueldade humana, em apatia celeste? Ao ver a morte do Filho, morto pelo acaso, propôs a redenção? 
Os textos lidos reafirmam a soberania de Deus e garantem que os ensinos contrários vem daquele que jaz sob maldição: “rastejarás sobre o pó da terra”. 
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ercebamos seu poder de mudar todas as coisas: ”Ou pensas tu que eu não poderia rogar a meu Pai, e que ele não me mandaria agora mesmo mais de doze legiões de anjos? Como, pois, se cumpririam as Escrituras, que dizem que assim convém que aconteça?” (Mt 26:53.54). Havia no Senhor todo o poder e autoridade para cancelar a sentença da cruz, mas não o fez para que se cumprissem as Escrituras, para que a vontade e a palavra do Pai conduzissem e determinassem a história humana.
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odos os pequenos e grandes detalhes foram soberanamente determinados para que o Santo chegasse à bendita cruz. E para regozijo nosso e confrontação com nossos adversários lemos:
“Jesus, o nazareno, varão aprovado foi entregue pelo desígnio e presciência de Deus.” (At 2.23). 
É hora de por de lado nossos fardos, lançarmos mãos de nossas espadas, é a luta contra as hostes do mal.
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eiamos novamente, para o relato da morte de Jesus, Deus utilizou os termos DESÍGNIO E PRESCIÊNCIA. Jesus foi morto de acordo com a presciência de Deus. Isso exige nossa atenção: Nossos acusadores humanistas – e há aqui seus representantes – afirmam ser a presciência a aceitação da parte de Deus das decisões humanas. E vendo Deus  antecipadamente – daí, dizem eles, a presciência – todas as coisas que adviriam montou seu plano.  É isso mesmo que pensam homens e mulheres cujo coração tem se elevado acima das nuvens. Não afastemos nossas mentes desta afirmação: Isso é ensinado mundo afora, e, pior, aprovado por homens e mulheres que se dizem povo de Deus.
Asseveram eles, que Deus viu que iria ocorrer, e daí AJUSTOU seu plano. Logo presciência é a passividade poderosa de Deus, pois fez um plano baseado nas escolhas humanas. 
Ao aceitar tal tese – violência hermenêutica e corrupção exegética, além de um engodo etimológico – concordamos que nossa salvação foi obra do acaso. Isto posto, destitui de Deus o poder de santificar-nos, de preservar-nos e mais chegaremos ao céu baseados em nós mesmos. O Senhor dos Exércitos, o Santo viu que eu iria crer; mais, viu que iria me santificar; mais, viu que “não me desviaria”, viu que cheguei ao céu. Essa abordagem não é a salvação por obras? Não há Deus Pai na escolha, Deus Filho na redenção e Deus Espírito na santificação. Presenciamos a exumação das doutrinas romanas. A morte ressurgiu em manto evangélico. É o poder das trevas, e sutilmente sem imagens – não nas paredes. Assim, é possível entender o cristo evangélico, pois nada mais é que retórica e mantra.
Mas quantas vezes lemos que o Filho do homem vai conforme está escrito? Para que se cumprisse a Escritura? Há dolo no Altíssimo que se fez poderoso apenas para nos impressionar?
Seu poder nada me oferece além de minhas próprias possibilidades? Esse é o deus que tem sido pregado por lábios profanos. Anátema sejam todos que proclamam tal discurso, são porta-vozes das trevas, não lhes tarda o juízo lavrado desde a eternidade.
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ão, assim não, esse não é nosso Deus que escreveu com sangue o caminho da paz e liberdade. Que desde a eternidade determinou todas as coisas conforme o conselho de Sua vontade, senão, leiamos o que foi estabelecido para seu Filho: Nascido de uma virgem, na cidade de Davi, anunciado por João, o batista, traído, abandonado, pendurado no madeiro, morto desde a fundação do mundo, em glória ressuscitou, subiu aos céus. O Rei, Justo e Justificador, Juiz, Alfa e Ômega e tanto mais que Ele próprio, em sua humildade não revelou.
Adverte aos seus adversários: “Mas, se não credes nos escritos, como crereis nas minhas palavras?” (Jo 5:47). Conforta os nossos corações, pois nos chama para Si e ensina: A fé não é de todos.
Isto nos basta, levantemo-nos.
Pregação na Igreja Batista Regular Renascer (Manaus, 08.08.2010)

A soberba, a ignorância e a morte

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As motivações anteriores à morte.
Adão buscou sua liberdade. Em sua autonomia pretendida, sonhava com a independência de Deus – ficar fora de sua comunhão, criar suas próprias verdades, ser seu próprio senhor. A despeito das advertências, dos riscos, a desobediência lhe foi conveniente, pois permitiria conquistas e poderes, estabelecer – e conhecer – seus próprios limites.

O decreto de Deus.
Difícil perscrutar como surgiram as bases para nosso pai primeiro escolher sua autonomia por um preço tão alto – a morte. Julgou Adão que a punição não abateria sobre ele.
E Deus sentenciou:

“No suor do teu rosto comerás o teu pão, até que te tornes à terra; porque dela foste tomado; porquanto és pó e em pó te tornarás”. (Gênesis 3:19)

Com a escolha feita por Adão – a humanidade inteira que nele estava – passou para uma nova dimensão da existência, pois, com precisão, Deus fincou marcos que limitariam a extensão da “nova vida humana”:

“porquanto és pó e em pó te tornarás”.

A morte estava introduzida na esfera humana. O novo homem, livre de Deus como desejou, mas, agora mortal e só, em vão lutaria contra morte.

A nova e cruel realidade.
Olhamos em nossa volta e constatamos sua presença: morrem crianças, idosos, sábios, estultos, ricos, pobres. E mais, olhamos para nós mesmos… a morte habita em nós e vem de todas as direções, ninguém lhe escapa, e seu manto de trevas envolve o que conhecemos por vida.

A ilusão como estratégia de sobrevivência.
Pode-se, por soberba ou ignorância, questionar-se a historicidade desses fatos, negar que a morte está associada à penalidade, mas, a morte, o contexto, e nossas aflições os comprovam. A mente humana feita refém da morte, desenvolveu estratégias para romancear esse duro e terrível convívio. Tenta escondê-la, diminuí-la, negar que se trata de um ato soberano de Deus e, disfarçando, afirma: “morre-se porque se tem de morrer”.
Mas em seu interior há clamor pela vida! Vale tudo para enganar a mente e o coração, mas é inexorável a sentença, o juízo:

“porquanto és pó e em pó te tornarás”.

Com astúcia e engano utiliza-se de sofismas; dela tiram poesias, constroem frases, maquiam-na para deixá-la menos terrível, menos cruel. A despeito de toda ilusão sugerida, permanece um insano paradoxo, um torneio de conflitos na mente humana: a fraqueza diante dela e o enganoso triunfo sobre ela.

A presunção subjugando a razão.
Cauterizando a própria consciência, nega-se o poder e o rigor da realidade.
Grita a razão:

Vivemos um cenário de morte, e nenhum poder temos que amenize ou nos faça fugir!

Uma bizarrice coletiva elevou o homem mortal a juiz, outorgando regras e valores do “além da morte”, estende seu poder também sobre eternidade. Ainda que refém da morte, acalenta-se como senhor do próprio destino, “deus” da eternidade. O sonho de Adão ser “semelhante ao Altíssimo”.

Um salto para o poder: a fé na fé.
Tomado por mágica, saltando por sobre a morte, chegou à terra do nunca. Onde não há verdades, abolida foi a razão.
Desembainhada a espada das “convicções e poderes”, em fantasia mental, seu imaginário criou de si e para si seu próprio “deus”.
A esse escravizou e, em insana abstração, aportou no picadeiro do absurdo, com seu “deus” debaixo do braço, e com ritos e liturgias, a ansiedade e desejos pessoais chamaram-na de “fé”. Aí mantras positivistas, formaram a religião que o fez senhor também da eternidade. Pobre homem, crendo em seu próprio coração, julga-se o senhor de todas as coisas.

O ápice da insana autonomia humana – o sonho de Adão foi realizado.

O delírio.
Nesse enganoso cenário sentem-se os senhores da vida, da morte, do destino, da eternidade. Nesse delírio perverso, sua mentira contribui para sua própria escravidão. A dura realidade o mantém circunscrito a uma vida que se esvai, escapa-lhe entre os dedos sem nada poder fazer. Mesmo assim, mantém seu delírio de poder, tenta dar sentido ao fugaz: o amor, os prazeres, o poder, o conhecimento e reconhecimento, sua bondade… tudo lhe aporta e nada lhe dá sentido permanente. Segue sem esperança em direção à morte.

A morte pela segunda vez.
A soberba e a ignorância o fizeram senhor, portanto, nada há acima do homem. Não há verdade nem poderes além dos seus. Rejeitam a Cristo, negam a esperança e a vida sem morte não passa de estupidez. O amor de Deus perdeu sentido, perdeu valor… rejeitam a vida novamente.

Disse-lhe Jesus: Eu sou a ressurreição e a vida; quem crê em mim, ainda que esteja morto, viverá; E todo aquele que vive, e crê em mim, nunca morrerá. Crês tu isto? (João 11:25-26)

Cumprir toda a justiça (Mt. 3): Senhor do universo

Costumamos tratar este texto (Mt cap. 3) como uma unidade, e partir daí tirararmos uma única conclusão ou deixamos-nos a conclusão de outros. 

Contudo, há questões distintas, públicos e propósitos distintos, uma clara divisão entre temas: a primeira parte trata de João Batista (1-12); e a segunda sobre o batismo de Jesus realizado por João (13-17). 


O esforço a ser feito é encontrar como Jesus “cumpriu toda a justiça”… ou ele não cumpriu?

Alguns comentários afirmam que a Justiça de Deus foi cumprida na cruz, o que de certa forma está correto, e, afirmam,  que não faz sentido acreditar-se que estavam ali cumprindo ou completando TODA JUSTIÇA. Esquecem-se esses que no texto tal proposição é clara. 


Outros dizem que por meio do batismo Jesus se identificou com a humanidade. Além da falta de clareza quanto ao que viria ser essa identificação – se legal ou vital, contraria a encarnação do Senhor. Pois, ao se fazer homem identificou-se completamente com a humanidade (Jo 1.14; 2 Co 5.21). 


Há ainda os que falam da equiparação do batismo com a circuncisão. O batismo seria para o cristianismo o que a circuncisão representa para o judaísmo, além de não ser essa proposta desenvolvida em nenhuma outra parte das Escrituras, não responde ao que significa “cumprir toda a justiça”. 


Ainda outros dizem que Jesus honrou a João e reconheceu o princípio do arrependimento (identificando-se com a minoria crente), isto é verdadeiro mas não explica o “cumprir toda a justiça”.
Definitivamente nenhuma dessas explica o que de fato Jesus quis dizer com: “convém cumprir toda a justiça”.
No primeiro texto há informações que nos auxiliarão em nossa empreitada. Ele se refere a João Batista: 
A profecia que o introduz na história dos judeus, do cristianismo e o fez um cidadão universal, colocando-o na primazia do anúncio e na identificação do Messias. (v.3). Sua pregação contendo advertências, bênçãos e juízos. (v. 7-12). O anúncio da chegada do Cristo. (v. 11-12). O surgimento do batismo associado ao arrependimento. (vv. 6,11). A ideia de limpeza interior ia muito além da liturgia praticada pelos judeus. 
Não há duvida da grande importância conferida a João pelo Senhor em seu plano redentor e no anúncio de sua vinda (Mt 11.11-14)

Jesus dá outra dimensão ao batismo de João

Já o segundo texto inicia-se com o diálogo entre o Senhor e João. 

Observa-se que Jesus chega a João para ser batizado, contudo João se opõe ao intento do Senhor. Se por João saber-se menor que o Senhor (v. 11); se pela completa inadequação da aplicação do batismo a Jesus, não sabemos. Mas Jesus não o propôs relacionando-o ao arrependimento. Afirmaria depois: “Quem dentre vós me convence de pecado?” (Jo 8:46 ); e João disse: “Sabeis também que ele se manifestou para tirar os pecados, e nele não existe pecado.” (1 Jo 3:5 ). Ademais, devemos reconhecer a seriedade que o Senhor atribuía ao batismo realizado por João (Mc 11.30). 


O Senhor não refuta ou corrige João por sua perspectiva e objeção, convence-o (“deixe assim por enquanto” v. 15) oferecendo-lhe outra dimensão do que estavam prestes a realizar: “cumprir toda justiça”. Devemos perseguir a evidência textual, Jesus afirma literalmente que “convém cumprir toda a justiça”. Se, de fato, foi “cumprida toda justiça” nesta parte das Escrituras é dada outra dimensão ao batismo de João. 

O conhecimento do Senhor sobre os últimos dias de João

Vejamos o registro de Mateus (4.12-17). Jesus ao saber da prisão de João dá início ao seu ministério. Sim, sabia Jesus que João não retornaria mais à sua pregação, findara sua participação. Passou a pregar a mesma pregação de João: “Daquele momento em diante Jesus passou a pregar e dizer: Arrependei-vos, porque é chegado o Reino dos céus!”. De certa forma o substituiu.
No capítulo 11 do evangelho de Mateus, Jesus em referência a João, deixa implícita sua morte (v. 11-13, 18). Jesus sabe – redundância, em se tratando de Deus – que o ministério e a vida de João estavam chegando ao fim. 

Toda a justiça de Deus

O termo justiça de Deus é parte integrante e dá sentido às Escrituras (Rm 3.21). Sua plenitude e extensão, entretanto, se realizam em uma série de eventos: desde a vinda do Senhor até a consumação de toda sua obra (2 Co 5.21). Não apenas na cruz, apesar da cruz ser seu ponto central: “Mas vós sois dele, em Cristo Jesus, o qual para nós foi feito por Deus sabedoria, e justiça, e santificação, e redenção” (1 Co 1:30). 


A justiça de Deus se dá na morte, ressurreição, (Rm 4.25) em sua interseção pelos santos: “Quem os condenará? Cristo Jesus é quem morreu, ou antes, quem ressurgiu dentre os mortos, o qual está à direita de Deus, e também intercede por nós” (Rm 8:34). Devemos entender que é parte da justiça de Deus a vinda do Espírito Santo, tanto quanto a exaltação do Senhor: “De sorte que, exaltado pela destra de Deus, e tendo recebido do Pai a promessa do Espírito Santo, derramou isto que vós agora vedes e ouvis”. (At 2:33). E ainda, sua vinda (2 Pe 1.16.17). 


Jesus tem em mente todas as etapas de sua obra e ao propor a João o cumprimento “toda a justiça”, o faz incluindo todos esses eventos. 

O termo utilizado

A palavra “cumprir” é traduzida em outras partes da Escritura como completar, preencher. Isso reforça ainda mais a ideia de realização completa. Adicionando ao fato do verbo se encontrar no tempo aoristo garantindo uma ação realizada e completa. 


O aoristo indica uma ação verbal ou acontecimento, sem definir absolutamente o seu tempo de duração, ou sem definir com precisão o tempo em que a ação ocorreu. É uma espécie de tempo passado indefinido, indeterminado, representa aspecto isolado, pontual e momentâneo. A ação ocorre uma única vez, de uma vez por todas.


O que Jesus e João vão realizar é uma ação completa, e não o início de um processo a ser cumprido ao longo do tempo. Não restariam pendências, naquele ato TODA A JUSTIÇA SERIA CUMPRIDA. Nada seria adicionado ao que eles estavam prestes a realizar ali. Nada haveria na justiça de Deus que não fosse contemplado naquele momento. Não podemos nos esquivar deste fato. 

A completa da justiça de Deus… e Sua multiforme sabedoria

Apesar de ser um fenômeno espetacular que se segue após o batismo (v.16b-17), esse texto é tratado à parte dos argumentos anteriores.  
Obrigatoriamente a descriçào conclui e realiza o que Jesus propôs para João. É nesse texto que há o cumprimento de toda a Justiça. 


Uma espetacular parábola é realizada pelo Senhor, utilizando-se do cenário do batismo: Jesus caminha para águas do batismo, para sua morte. E ao imergir é sepultado, para logo depois ressurgir em sua ressurreição, o prazer do Pai e a vinda do Espírito.

A vinda do Espírito em substituição de Jesus é descrita em João 15:26: “Quando vier o Ajudador, que eu vos enviarei da parte do Pai, o Espírito da verdade, que do Pai procede, esse dará testemunho de mim”.

E diz o texto: “e eis que se lhe abriram os céus, e viu o Espírito de Deus descendo como pomba e vindo sobre ele. E eis que uma voz dos céus dizia: Este é o meu Filho amado, em quem me comprazo”.


Um cenário magnífico e perfeito de “toda a justiça de Deus”: vida, morte, ressurreição, satisfação junto do Pai e a vinda do Espírito Santo. 


O Senhor de toda a terra realizando seus feitos. 

“Ó profundidade das riquezas, tanto da sabedoria, como da ciência de Deus! Quão insondáveis são os seus juízos, e quão inescrutáveis os seus caminhos! Pois, quem jamais conheceu a mente do Senhor? ou quem se fez seu conselheiro? Ou quem lhe deu primeiro a ele, para que lhe seja recompensado? Porque dele, e por ele, e para ele, são todas as coisas; glória, pois, a ele eternamente.

Amém”.


Soberania e responsabilidade: Conciliação

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Eduardo, bom dia.

Em resposta ao teu questionamento, como conciliar o controle a soberania e a predestinação dos acontecimentos com a responsabilidade dos homens, dos seus atos, faço algumas considerações, mesmo que resumidamente,  espero que o nome do Senhor seja engrandecido e que possa te ser útil.

QUANTO À CONCILIAÇÃO DAS VERDADES BÍBLICAS

O que precisamos saber
Devemos asseverar a existência do conflito: soberania divina e responsabilidade humana.  A questão não decorre de imaturidade do leitor, ou de outro agente externo, mas sim, de uma realidade da verdade revelada de Deus.

Gostaria de afirmar da minha incapacidade em conciliar tais verdades.  Decerto, nem tentaria, ao preço de caminhar nas sendas do Humanismo Teológico. Pois, esse, impondo a soberania da razão à revelação destrói conflitos e grandezas próprios da palavra de Deus – que está além da compreensão humana.  

A oferta de soberania de Deus sem responsabilidade humana, ou da responsabilidade humana sem soberania divina não tem sua origem em Deus, conforme está escrito:

“Essa não é a sabedoria que vem do alto, mas é terrena, animal e diabólica. (Tg 3:15)”

Uma definição conceitual é proposta de forma a garantir que ambas as verdades sejam mantidas e se expressem conforme presente nas Escrituras, o Paradoxo. Ou seja, as Escrituras contêm claros conceitos que “achamos que sejam excludentes ou contraditórios entre si,” ambos devem ser ensinados e cridos por serem partes inquestionáveis da verdade de Deus. Como diz Hoekema:

“Nem parece possível harmonizar estes dois pensamentos aparentemente contraditórios: Deus é totalmente soberano sobre nossas vidas, dirigindo-nos segundo sua vontade, e que, entretanto, seja requerido de nós que façamos nossa própria decisão, sendo totalmente responsabilizados por ela.” (Salvos pela graça, pag. 11).

O que precisamos fazer
O que é cristão e santo é perseguirmos o que as Escrituras dizem a respeito de ambas verdades e nelas crermos, sem que uma exclua a outra. Presente tais verdades, resta-nos reconhecê-las como tais. Acredito ser adequado à nossa vocação submetermo-nos às Escrituras. 

Iniciemos com o texto a seguir:

“De sorte que, meus amados, do modo como sempre obedecestes, não como na minha presença somente, mas muito mais agora na minha ausência, efetuai a vossa salvação com temor e tremor; porque Deus é o que opera em vós tanto o querer como o efetuar, segundo a sua boa vontade”. (Fp 2:12-13)

 A ideia geral do verso é orientar a respeito da conduta cristã. A frase “Efetuai a vossa salvação” garante que a forma como vivemos é responsabilidade de cada um salvo.  

Enquanto o texto “Deus é o que opera em vós tanto o querer como o efetuarsegundo a sua boa vontade” fala claramente que Deus em sua  soberania é quem move a vontade e a ação humana.

 Coexistem, portanto,  na mesma instrução, para um mesmo propósito, sem que uma verdade negue a outra: responsabilidade humana e soberania de Deus.
“Criar soluções pessoais” que neguem ou alterarem o que é claro nas Escrituras não convém aos santos.

A responsabilidade humana e soberania divina coexistem em um mesmo sistema, fazendo parte de uma única verdade.  Ao afirmarmos uma não necessitamos negar a outra. Não precisamos, não podemos conciliá-las, posto que inconciliáveis. Decerto, que nossa incapacidade não pode transformar uma em verdade e outra em mentira.

Mesmo que não entendamos, que não saibamos, de alguma forma ambas são conciliadas na mente de Deus. Não devemos pecar contra o  Senhor lançando-nos como seu conselheiro, melhorando seus pensamentos e sua palavra. Pois, nos é proibido:

“Porque, assim como o céu é mais alto do que a terra, assim são os meus caminhos mais altos do que os vossos caminhos, e os meus pensamentos mais altos do que os vossos pensamentos”. (Is 55:9)

“Pois, quem jamais conheceu a mente do Senhor? ou quem se fez seu conselheiro?” (Rm 11:3) 

Suficiente apenas mantermos a humildade para reconhecermos nossa incapacidade em conciliá-las, e afirmarmos que ambas são verdades de Deus úteis para nossa santidade.

Negá-las em qualquer sentido, faz Deus mentiroso, e sugere que a verdade está em nós.

A astúcia de satanás induzirá a afirmar que “isso se dá apenas após salvos, antes não”.

Passemos então, para outros textos das Escrituras em que, lado a lado, estão a responsabilidade nos atos humanos e a soberania nos atos de Deus.

Ao que precisamos nos submeter 
Grande parte do corpo das verdades bíblicas apresenta Deus soberano em seus atos. Lemos sobre o direito (soberania) de Deus em destinar tudo conforme seu querer, sem que o homem – qualquer um – possa contestá-lo ou detê-lo.

“E todos os moradores da terra são reputados em nada; e segundo a sua vontade ele opera no exército do céu e entre os moradores da terra; não há quem lhe possa deter a mão, nem lhe dizer: Que fazes?” (Dn 4:35)


Outro texto garante que Deus é o Senhor do destino de todos os homens. A ilustração do poder do oleiro (Deus) sobre o barro (os homens) para destiná-los ao que sua vontade santa definir: uso honroso e uso desonroso, mostra sua soberania sobre todos.

“Ou não tem o oleiro poder sobre o barro, para da mesma massa fazer um vaso para uso honroso e outro para uso desonroso?” (Rm 9:21)


Há muito mais do que Deus, mas acredito na suficiência destes para nosso propósito.  
A pregação
As advertências contra o pecado na mensagem bíblica evidenciam a responsabilidade humana diante de Deus. A pregação feita por Pedro, sob determinado aspecto, enfatiza a responsabilidade moral dos homens. Caso contrário, a pregação seria uma grande mentira. Advertir pessoas que não são responsáveis como se responsáveis fossem, seria o mesmo que lançar palavras ao vento.

O questionamento daqueles homens – “Que faremos, irmãos?” só tem sentido por serem eles responsáveis diante de Deus (seus atos, consciência etc.)

A resposta do apóstolo – “Arrependei-vos” – deixa claro que o homem é responsável por seus atos e precisa fazer escolhas morais.

“E, ouvindo eles isto [a pregação de Pedro], compungiram-se em seu coração, e perguntaram a Pedro e aos demais apóstolos: Que faremos, irmãos?  Pedro então lhes respondeu: Arrependei-vos, ..”. (At 2:37-38)

As parábolas do Senhor
Na parábola do joio e do trigo, fica claro que o Senhor fala sobre homens, embora sementes. Há distinção entre seus frutos, o que faz o homem responsável por si (natureza, atos etc.). De outra forma não poderíamos entendê-la:

“Deixai crescer ambos juntos até a ceifa; e, por ocasião da ceifa, direi aos ceifeiros: Ajuntai primeiro o joio, e atai-o em molhos para o queimar; o trigo, porém, recolhei-o no meu celeiro”.(Mt 13:30)

O juízo de Deus (soberania na aplicação de sua justiça) tem por base as características intrínsecas (responsabilidade humana) das sementes semeadas. Uma para utilidade, outra para queima.

A sentença
“Não erreis: Deus não se deixa escarnecer; porque tudo o que o homem semear, isso também ceifará. Porque o que semeia na sua carne, da carne ceifará a corrupção; mas o que semeia no Espírito, do Espírito ceifará a vida eterna”. (Gl 6:7,8)
O texto acima utiliza o termo semear para falar de conduta, enquanto que ceifará se trata de juízo. Convém-nos afirmar a responsabilidade humana ao lado da soberania de Deus, duas verdades que caminham juntas nas Sagradas Letras.

O que precisamos concluir 
Estão postas duas verdades nas Escrituras, lado a lado, a ideia de resumi-las (excluindo uma ou outra) em um sistema fechado e validado apenas pela razão humana,  traz poluição para o entendimento e impossibilita a percepção da suficiência das Escrituras; do caráter e da bondade de Deus, de Sua graça e, mais, negligencia a natureza de pecado do homem, e constrói uma base falsa para santificação e serviço.  

Reconheço haver pontos doutrinários (Escatologia, Eclesiologia, etc.) em que ensinos permitem – mesmo que temporariamente – com mais de uma posição possível. Entretanto, especificamente a respeito da doutrina de salvação, qualquer  ensino que negue o poder de Deus ou a responsabilidade humana é oriunda do próprio satanás.

Suficiente apenas mantermos a humildade para reconhecermos nossa incapacidade em conciliá-las, e afirmarmos que ambas são verdades de Deus úteis para nossa santificação.

Fico à disposição do irmão para questionamentos e dúvidas.

Que o Senhor seja engrandecido.

Paulo Brasil